quinta-feira, outubro 26, 2006

Doce Refúgio: Cooperifa

Festa. Festa para mim é sinônimo de Alegria. E festa, com alegria, só pode ser Festa do Povo.
Porque Festa de gente rica pode até ter muita fartura, muito conforto, mas não tem alegria. Porque não tem espontaneidade. Muitas vezes falta o abraço, o olho no olho sincero, a entrega e troca de palavras. É preciso manter a compostura, a fineza. E isso não dá liga. Por isso que para mim, festa, com alegria, é a festa do povo.
E teve Festa mais linda que o Aniversário de 05 anos do Sarau da Cooperifa?
Não teve. Ao menos, a humilde pessoa aqui não se recorda no momento de outra. Talvez seja a embriaguez, que me envolve até hoje, quatro dias depois do ocorrido, fazendo com que eu escreva estas poucas e tortas linhas. A verdade é que foi muito lindo, e eu preciso deixar registrado.
Emoção igual senti apenas no Fórum Social Mundial, em 2005, durante a marcha de Abertura. Mais de 200 mil pessoas andando pelas ruas de Porto Alegre, rostos multicoloridos, alegria, protestos, felicidade. Foi lindo. Como o Aniversário da Cooperifa.
Não posso dizer que não faltou nada. Senti falta de minha namorada, Tânia. Mas ela esteve comigo em pensamento, em vários momentos.
A emoção maior para mim durante a festa foi ver os poetas chorando, quando o Samba da Hora cantava: “Nós iremos achar o tom, um acorde com lindo som, e fazer com que fique bom outra vez o nosso cantar. E a gente vai ser feliz, olha nós outra vez no ar, o Show tem que continuar...”
O Show tem que continuar. E continuou. Nas asas de minha imaginação, enquanto estava emocionadíssimo com a cena, naquela tarde de sol, churrasco, amigos e muita bebida, abençoado pela sombra da grande árvore que habita o Zé do Batidão (se alguém souber que tipo de árvore se trata, por favor me avise). Recordei do que vira há poucos dias antes: a poesia do Fundo de Quintal e de uma Tamarineira.
Meu irmão me emprestou um dvd do Fundo de Quintal, “Fundo de Quintal Ao Vivo Convida”. Além do show, ao vivo, há um documentário, contando a história do grupo. E ta lá, a história do Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos, Berço do Fundo de Quintal e de outros tantos sambistas. E a história de sua Tamarineira.
Tamarineira é uma árvore que ocupa a Rua Uranus, 1326, sede do Cacique Ramos. Lá, a mãe de Bira Presidente colocou um patuá e abençoou dizendo que quem ali pisasse com dotes, bem intencionado, que as suas qualidades, suas virtudes iriam transparecer (“Axé, plantado na ponta do pé tem axé, Axé, plantado na ponta do pé. Patrimônio Cultural, Tamarineira...”). E ali, aos pés da Tamarineira, grandes nomes da música surgiram ou passaram: Beth Carvalho, Alcione, Zeca Pagodinho, o próprio Fundo de Quintal com Neoci, Almir Guineto, Jorge Aragão; Dudu Nobre, Leci Brandão, Luiz Carlos da Vila.
Este último, em seu depoimento no documentário falou de algo que muito me emocionou. Da “cozinha” de samba que era feita, todas as NOITES DE QUARTA FEIRA, sob a Tamarineira. E não era apenas uma reunião de sambistas cantando sambas da moda, conhecidos na época, não. Havia pólvora de primeira qualidade solta no ar: os sambistas levavam sambas inéditos. Era quase como um desafio. Não anunciado. Jorge Aragão e Luiz Carlos da Vila confirmam: a reunião de todas as quartas, a gana por levar um samba novo toda semana, sem nenhum compromisso com o sucesso, com a fama, foi extremamente saudável. E produtivo. Muitos sambas conhecidos até hoje saíram desse período, e foram primeiramente apresentado nessa reunião, as quartas feiras.
Bem, disse tudo isso porque essa declaração me lembrou do Cooperifa. Primeiro, porque é assim que eu me sinto. Há um certo desafio (ao menos para mim): levar algo novo, toda semana. Quando não dá, tudo bem. Relemos outras coisas boas, dos novos ou antigos. Mas este desafio estimula a criatividade, e somando-se as injeções literárias de toda quarta feira... É um verdadeiro Barril. Toda vez que chego em casa do Cooperifa, as vezes as 0h30, 01h00 da madrugada, apesar do cansaço, ainda tenho vontade de escrever, criar. Injeção Literária. Há algo mais saudável para o processo criativo do que isso?
E segundo, porque depois daquele domingo, aquele Samba, embaixo daquela árvore. Para mim esta ali a nossa própria Tamarineira (com todo respeito à original), exercendo o mesmo papel: abençoando aos que ali chegam, com boas intenções e humildade, exaltando suas virtudes. Oxalá.
E pra fechar, uma música linda, com um nome mais bonito ainda, que não me sai da cabeça por estes dias quando eu penso na poética história do Fundo de Quintal e sua Tamarineira, e do Aniversário de 05 anos da Cooperifa e tod@s @s nossas maravilhos@s histórias e dos Poetas:

“Sim, é o Cacique de Ramos
Planta onde em todos os Ramos
Cantam os passarinhos das manhãs.
Lá, do samba é alta a bandeira
E até as Tamarineiras
São da poesia guardiãs...”

Doce Refúgio – Luiz Carlos da Vila


Salve,

Rodrigo Ciríaco

p.s.: recomendações:
1 – Não deixe de ver o dvd Fundo de Quintal Ao Vivo Convida, principalmente o documentário completo. Como disse, é lindo, há uma identificação com a magia da Cooperifa e gratas surpresas (que não vou contar aqui para não estragar).
2 – Se ainda não foi ao Sarau da Cooperifa, VÁ! Toda Quarta feira, a partir das 21hs, no bar do Zé do Batidão.

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