segunda-feira, janeiro 22, 2007

O Urubu e a Carniça


Ah! Um urubu
também pousou na minha sorte!
Tinha pouco mais
de quinze anos de idade.

Contra todos os pensamentos,
Infortúnios e maus palavreados
Que sobre ele lançava,
Ele se mantinha firme, forte:
Peito ereto, asas abertas
Ameaçava atacar!
Resignado, passei a aceitá-lo
Como uma odiosa estimação.

Alimentava-o com as sobras
Das piores lembranças,
Detritos remoídos
Das mais dolorosas recordações,
E nos momentos de solidão profunda
Quem eu encontrava?

Tornou-se impiedoso.
Não contente com as reminiscências
Que ora ou outra eu o alimentava
Passou a me cutucar/provocar:
remexeu cicatrizes,
abriu baús de sofrimentos
E onde preferia esquecimento
Ergueu feridas
Transformando em chagas,
Carne aberta,
pústulas apodrecidas!

Hoje não mais o controlo
E não apenas de minha sorte
O urubu tomou parte
Quer se apoderar dos meus sonhos,
Minhas horas de sossego,
Meu trabalho e o meu corpo.

Já tão breve não espera
A hora de transformá-lo
Em carniça!


(rodrigo ciríaco)

Nenhum comentário: