quinta-feira, abril 12, 2007

Eu queria que a minha escola tivesse Educação!

Para quem não entendeu a raiva ou o desejo de vingança no meu último post, explico contra quem vai toda o meu pote de ira: contra a Escola, contra a Educação; ou melhor dizendo: contra quem faz nós termos um sistema educacional tão podre, tão capenga, que trata os alunos (e algumas vezes os professores) como verdadeiros animais, bestas feras que devem ficar apenas enjauladas. Sem direito à contestação, respeito ou raciocínio.

A Educação no Brasil possui uma das piores avaliações do mundo! Basta consultar as diversas pesquisas espalhadas em sítios especializados ou nos jornais. E apesar do caráter duvidoso destas pesquisas, não se precisa delas para se constatar o que é fato, principalmente na rede pública de ensino - não que a rede privada seja muito diferente mas, o meu interesse na discussão é a rede pública, gratuita.

Tudo isso sendo a Educação um dos temas mais recorrentes na boca de políticos, sociólogos, especialistas, pais, diretores, professores e o caramba a quatro. Quando se fala em soluções para o Brasil - sejam as mirabolantes ou as mais simples -, ela, coitada, é apontada como um dos possíveis caminhos para resolver o problema. Como se pudesse fazer um milagre. Coitada, se pensarmos em nossas escolas, não se aguentam sobre as próprias pernas.

O Estado de São Paulo tem um dos piores índices. E os problemas vão sim, desde a falta de infraestrutura, baixos salários, muitas horas de trabalho mas, na minha singela opinião, o maior problema que vejo dentro das escolas públicas - e falo com toda a autoridade de quem as conhece há 20 anos, seja como aluno ou professor - é o material humano. Como tem gente medíocre, mesquinha, despreparada, para lidar com pessoas dentro da escola! E não é a questão de avaliar a competência profissional de cada um apenas, não, mas o caráter, a postura.

Muitas vezes quando falamos dos problemas da escola, um dos responsáveis pela má-educação, pela "ruimdade" do ensino são os alunos. Reclama-se que são indisciplinados, desinteressados, fala-se sobre os problemas da desestrutura familiar, da fome, da miséria, da visita do Bush, da chegada do Papa, blá, blá, blá. E sobre os professores? E a direção, a coordenação pedagógica? Bom, os professores ganham mal, trabalham muito, são explorados, etc,...

Muitas vezes eu não entendo o motivo de tanto cuidado, tantas "meias palavras" para se falar do papel do professor e de outros profissionais da educação dentro da escola. Sempre em reuniões, conselhos de escolas, ouço falar que quem faz a escola é o aluno. E ponto. E discordo! Pois um aluno sozinho não faz a escola. Por que então para que serviria a direção, a coordenação pedagógica, o professor?

Tomo como parâmetro a minha escola. O que se faz lá é um crime. Não bastasse os problemas na infraestrutura do prédio, que como já falado aqui estava com infiltrações, goteiras, risco de curto-circuito, alagamentos, desmoronamento entre outros, lá parece uma terra sem lei. Praticamente não há direção. Ou melhor, há, no melhor estilo "finge que funciona". Para inglês ver.

Até semanas atrás não tinhamos uma lista dos alunos. Não podíamos preencher corretamente o diário, lançar notas. Até o presente momento (12 de abril) venho trabalhando no período da tarde sem um horário definido: sei os dias em que trabalho, não sei o horário que entro, não sei o horário que saio. Não sei quais turmas trabalharei nos dias, nem os alunos. Total prejuízo para a organização de qualquer atividade escolar. Fora os dias em que já trabalhei com duas salas em uma (mais de 50 alunos em uma sala), em salas com poeira (de cimento e cal) e aluno respirando tudo aquilo, ficando com dor de cabeça, passando mal. Fora o dia em que trabalhei sem água - com um calor insuportável, alunos ameaçando fazer "greve de lição" - rs - ou com excesso de água: goteira na cabeça. Em outros dias me colocaram em dois lugares ao mesmo tempo. No outro em nenhum. E me ameaçaram ficar com falta - apesar de estar na escola! Enfim, acho que já aconteceu de tudo...

E eu me pergunto? Como garantir, nestas condições, a qualidade de ensino?

Porque eu fico muito mal quando vejo as pesquisas dizendo que a educação está uma bosta. Sou professor, me sinto um pouco responsável. E eu fico muito mal quando eu corrijo provas, trabalhos, e vejo que a maioria dos meus alunos ainda não sabem ler. Sabem escrever, são copistas. E eu fico muito mal, mas com uma vontade louca de trabalhar e mudar tudo isso. Mas como, se não tenho condições para trabalhar? Se na minha escola não há organização? Se na minha escola a direção é lei, mão única, não há diálogo, comunicação? Apenas ordens, regras, imposição. Uma grande camisa de força, que engessa, impede o trabalho de alguns professores - que querem trabalhar - mas tem que virar "babás". Garantir o dia letivo. Aluno dentro de sala. Não importa a qualidade do ensino.

Como mudar esse sistema de ensino, que dá a condição, estabilidade para que maus profissionais continuem exercendo o seu ofício, que permitem que "profissionais" (será que são?) façam tudo de errado e tenham o seu emprego garantido? Que permite que os bons acabem pagando pelo mau trabalho dos ruins?

Não sei, estou pensando...

Sei apenas que eu queria que a minha escola tivesse Educação. Apenas isso.

Rodrigo Ciríaco

P.S.: ao menos aqui tenho a liberdade de dizer o que quero. Espero.

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