quinta-feira, agosto 23, 2007

pensamentos desconexos

"Estou numa caverna escura e baixa. Quarenta crianças me acompanham. O ar é rarefeito. Há musgo e lodo, por todos os lados. Onze, doze anos. Há cinco meses me estamos juntos. Uma brisa suspende os meus pêlos. Gabriele, Amanda e Luquinha têm os lábios cortados. Estamos com fome. Sede. Frio. Mariane se adianta, pergunta se vai demorar muito. Um pouco. André e Danilo falam alto. Brigam. Peço silêncio. Lembro que estamos sendo perseguidos. Tudo ali é muito perigoso. Juntos, somos fortes. A indisciplina nos enfraquece.

A velha candeia nos ilumina. Estreita-se o caminho. Na parede, Jorge sente um frescor. Água. Um fio. Meninos e meninas se empurram. Todos querem beber. Ao mesmo tempo. Pamela cai, ralha o joelho. Allan diz que a mãe de Jean é Puta. Solicito calma. Estou nervoso. Peço para serem rápidos. A candeia está fraca. Parece perdida. Tento demonstrar segurança. Por dentro eu choro. As crianças falam. Não se controlam. Marcos dá um soco em Kalil. Grito. Silêncio! Será que não dá pra conversar? Surge um eco. Um estranho barulho. Elas se assustam. Nos damos as mãos, continuarmos andando. Agachados. Lado a lado. Alguns tem raiva, me olham com desconfiança. Procuro demonstrar força. Não acho. Vou na frente. Sozinho. A candeia apaga. O óleo acaba. O gás acaba. Trevas. Desespero. Vou tateando. Círculos. Parece que nunca chegamos. Cansaço. Quero parar. Não posso. Estephanie chora. Insisto. Os ombros pesam. Me ajoelho. Tenho medo. Desisto. Estamos perdidos.

Então bate o sinal e todos vão embora. Pra casa. Correndo."


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