quinta-feira, outubro 18, 2007

conto

A QUEDA


Acho melhor a gente voltar quando não tiver ninguém. Vamo chegá, mete o pé na porta, solta os cara e sair.

Cê tá louco Querô? Cheiro cola e comeu a lata? Já viu o tanto de chave e cadeado que tem, essa grade no portão. Cê acha que vai estourá com esse seu pezinho.

Aí, tá me tirando Baleia?

Êh, vamo pará com a treta aí. O negócio aqui é sério. A gente já tem todo o esquema traçado Querô. Cês deram um rolê pelo pavilhão?

É, naquelas né Pedro. Aquele véio fica de marcação. Mas conseguimo fazê uma lista de cada cela.

Passa aê, deix’eu ver: Mendes, Rosa, Drummond. Hum, João Cabral, Vaz, Bandeira, Sacolinha, he, he, esse é dos bom. Mas, só tem homi aqui mano?

Você nunca foi numa cadeia jão. Lá num tem essas coisa de homem com mulher não.

Caraiô, mas cê é burro pra cacete hein Querô.

Tô te avisando Baleia, vô te cobrir de sôco.

Ô, ô, ô, vocês são duas bichinhas mêmo hein. Só ficam brigando. O Baleia tá certo Querô, isso aqui é a Revolução, num lembra? A gente vai incendiá a Bastilha. E aqui não tem essa separação não. Acrescenta aí: Clarice, Dinha, Lygia, Cecília, Elizandra.

Mano, num vai dar pra levá todo mundo. E o Veríssimo, o Vinícius. O Plínio cara!

Infelizmente alguns vão ter que ficar. É como dizia a minha avó: vão-se as mãos, ficam os dedos.

Nóóóóóssa, que viagem jão!

Trocou tudo o Pedro, há há há há.

Xiiiiiiiiiiii!

Aí, vamo falá mais baixo que o Alemão tá de marcação. Querô, repassando o plano.

Tá, cada um pega a touca e vai prum corredor.

Certo.

O Baleia vai latir.

Isso, e aê?

Êh, eu sei do baguio mano. Pergunta pra ele agora.

Fala aí cadela.

Tá forgado hein Bala. A gente começa a tirar os livros, você assobia, dá o grito e a gente responde em coro.

E sai correndo.

Não, fica esperando o tiozinho pegá nóis. Moscão.

Então é isso rapá. É tudo nosso! Sem afobação, sem nervosismo. Chegou a nossa vez. Cês foram escolhido a grão. Isso num é pra qualquer um não. A gente vai ficá na história da escola. Na humildade, na malandragem. Sem pagá simpatia. Um por amor, dois pelos livros.

Um por amor, dois pelos livros!

Xiiiiiiiiiiiii! Silêncio.

Vai, vai, vai. Cada um pro seu corredor.

Meninos, vocês já sabem: um de cada vez, por favor.

Au, au, au. Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.

Vamos calar a boca Rogério? Maicon, posso saber onde você pensa que vai com essa pilha de livros. Parece que não conhece as regras. Ermeson, Ermeson! O quê é isso? Desce já dessa mesa.

Eu sou Pedro Bala, descendente de Zumbi. Irmão de Lima Barreto, neto de Lampião. Isso aqui é a Revolução Alemão. Livros são pra mexer!

Livros são pra mexer! Êêêêêê...

Seus estrupícios, vamos parar com essa bagunça. Vocês estão na Biblioteca! Ei, ei, vocês não podem sair com esses livros não. Volta, devolve aqui seus moleques!

Corre, corre, corre.

Ô Direção!

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