terça-feira, outubro 30, 2007

um dia daqueles...

ou um dia no inferno, talvez fosse o título mais apropriado.

é que a escola não é um inferno. não ela como um todo. eu particularmente não tenho nenhum problema com sala de aula. raramente tenho problema com alunos em sala. lógico, eles acontecem, mas ajo um pouco como Rogério Ceni: cobro penalti, faço gol de falta. de vez em quando algumas defesas, ou seja, dentro da minha "área" eu dou conta do recado.

o problema são os "outros" - o inferno são os outros, não lembro quem disse isso. e é verdade. hoje o caos, thanatos e marte estavam presentes na escola. junto com o cão. só que na escola não havia direção nem coordenação. então, quem teve que se virar com os pepinos extra-sala? professor rodrigo.

aliás, existe uma relação direta entre o o fato do campo de batalha que é a escola ser exaltado, amplificado em quarenta vezes quando não se tem direção lá dentro. os alunos são inteligentes. eles sentem a falta de autoridade - não confundir com autoritarismo -, a falta de organização pelo ar. no cheiro. e se apropriam disso.

bem, tudo começou na hora do intervalo. fui na cantina comprar uma água gelada, trincando, pois o calor estava de matar e na minha sala quase não tem janela ou ventilador, quando vi dois alunos chorando. haviam acabado de se pegar. o maior, cobrira de soco o outro, um pouco menor. e como que se resolveu a peleja? juntou um grupo, uma gangue, com mais seis moleques e foram pra cima do maior. resultado? bem, o menor da primeira briga estava com o rosto vermelho, machucado. o maior estava com marca de pontapés - dava quase pra saber a marca do tênis - nas costas, no peito e nas pernas. além disso, estava com falta de ar - tomara um soco no pescoço. os meninos já haviam se dispersado, mas percebia-se uma certa satisfação, um ar de vitória como se o que eles tivessem chutado fosse um penalti, e não a cabeça do colega. e ainda marcaram um belo gol.

o menino quase não estava conseguindo respirar e eu, que não entendo nada de primeiros socorros, estava começando a ficar desesperado. fiz o básico: tentei acalmá-lo, já que além da falta de ar estava nervoso. acompanhei-o ao banheiro, ajudei-o a lavar o rosto, conversei com ele. disse que estava errado mas os outros não tinham direito de fazer o que fizeram. pois bem, o menino ficou para fora da sala, chamamos a sua avó que toma conta dele e ele foi pra casa.

depois, foi a hora da devassa.

tinha os nomes dos meninos que participaram da sessão de linchamento. a maioria deles são os chamados "alunos-problemas": já repetiram, tem dificuldade de relacionamento com professor, muitas vezes não fazem as atividades. a maior parte deles são super inteligente, e posso me gabar por ter um bom trânsito entre eles. pois bem, fui atrás deles, um por um, juntei-os na sala dos professores - já que a direção estava fechada e, os professores, sozinhos, tendo que dar aula e resolver estas questões. dá para perceber que eu não tive intervalo hoje, não? - voltando... levei-os para a sala dos professores, pedi licença aos outros colegas e perguntei: vocês sabem por que estão aqui, não? eles sabiam. não tinha como mentir. e disseram que não fizeram aquilo por mal, na verdade o menino maior era muito maior que o menor - o que é verdade - e que eles tentaram separar mas, não deu, partiram para a agressão. conversei, conversei, conversei, disse que apesar da "boa intenção", não sei, eles não tinham que ter resolvido a situação. não daquela maneira. deveriam ter chamado alguém. princiapalmente, por que uma coisa ficou no ar:

se o menino realmente não tivesse conseguido voltar a respirar, quem iria ajudá-lo? quem iria se responsabilizar se alguma coisa tivesse acontecido com ele?

resumindo a história, não pegou nada pra ninguém. apenas conversei seriamente com os rapazes. eles me ouviram. de boa. eu os respeito e eles me respeitam. assim funcionam as coisas.

só que depois - parece que eu me chamo "solução de problemas", ou será que é por que eu trabalho? bom, parece que para alguma coisa eu sirvo - veio outro aluno me dizer que fulano falou que ia juntar uma turminha pra catar ciclano na saída. outra treta. como essa molecada não tá pra brincadeira, disse que ia averiguar. odeio quanto tem treta na escola, faço tudo para que elas não ocorram. fui conversar com fulano. ele folgadamente me disse que não avisa ninguém: ele faz. não duvidei, mas também não deixei por menos. resumindo também... não teve treta na saída.

para alguma coisa eu sirvo.

e ainda fiquei sabendo que uma aluna que tinha abandonado a escola para trabalhar como "placa", divulgando anúncio de uma construtora, foi parar na FEBEM. a mãe colocou ela lá, a amiga dela disse. eu estranhei. como a mãe colocou na FEBEM? aí, fiquei sabendo que ela roubou uns artigos dá mãe - celular, mp3, dvd - vendeu para o tráfico, não entregou e ficou com o dinheiro. se queimou dos dois lados. os manos foram cobrar na casa dela, quase sobrou pra mãe. ficou jurada. a mãe a colocou num abrigo.

ou seja, perdi mais uma aluna para o sistema. será que o pessoal do Travessia a encontrará na rua? infelizmente, esse é o caminho.

e aconteceram mais duas coisas fodas com ph mas que eu nem vou relatar aqui por que eu tô cansado.

e olha que as minhas aulas foram ótimas hoje. fiz saraus nas sétimas e quintas séries, li um conto do ferréz, li o poema do dugueto, os alunos leram. foi um dia chapado. dentro da minha sala, por que lá fora.

o bicho pegou.

e eu ainda tive que segurar a bronca. saí de lá com os nervos à flor da pele.

não gosto de me vangloriar mas, tem que ser guerreiro pra sobreviver na educação. não é nenhum mérito, mas só de estar lá, todos os dias, tentando fazer o melhor por aquela molecada, com essa estrutura podre que a gente tem, com a falta de união e apoio entre os professores, com essa molecada que não tem uma orientação, não tem um incentivo. é difícil.

e ainda dizem que eu sou um incompetente.

só por hoje, vocês: vão à merda!

Rodrigo

P.S.: ultimamente este blog está com um caráter meio confessional. não é proposital, mas escrevo aquilo que os textos pedem de mim.

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