segunda-feira, dezembro 24, 2007

sobre o natal e o ano que não acabou

sim, eu sou mais um daqueles chatos que não gostam do natal. não gosto deste clima de festa, dos falsos abraços e sorrisos. não sou cristão suficiente para perdoar a todos e a todos os erros do ano por um único dia. nem os meus. natal sempre me pareceu uma data muito sofrida. não para mim, graças aos meus pais nunca faltou nada, nem ceia farta nem presentes. mas sempre me incomodou ver os outros, os que não tinham. eles me doíam.

como me dói ver a corrupção da data natalina. quem é mais importante, cristo ou papai noel? bem, veja os comerciais da coca-cola, o sorriso nos rostos dos comerciantes. o talão de dívidas dos trabalhadores. então, não me diga para ficar feliz com o natal.

nem com o ano novo. para mim o ano não acabou. não ainda. e nem acabará na próxima semana, depois da tradicional virada. sexta-feira foi o meu último dia na escola mas eu senti que não tinha feita direito a matéria. ela não estava completa. não poderíamos dizer que o ano havia chegado ao fim então. dos 26 (vinte e seis) alunos que estavam nas 5ªs, 6ªs e 7ªs séries, sem saber ler e escrever, apenas dois aprenderam. precariamente.

tod@s foram aprovados. ano que vem 6ª, 7ª e 8ª, sem aprender a ler e escrever.

não acho que deveriam ser "penalizados", repetindo. mas não acho que deveriam ter sido aprovados, pela falta de interesse de alguns, pela nossa total incompetência. vendo o ano letivo terminar, estes alunos terem passado um ano comigo e serem aprovados, sem saberem ler e escrever me fazem me sentir um incompetente. eu até que tentei ajudá-lo, mostrei-lhes o ABC, ajudei a juntar letras, formar sílabas, palavras, mas... não foi suficiente. eu não sei alfabetizar - ainda -, e por mais que consultava cartilhas, revistas especializadas, dicas, parava sobre as minhas limitações. me sentia impotente, frustrado e inútil.

como ainda me sinto.

o ano que vem a guerra continua. espero ter fôlego, convicção, paciência e esperança para lutar contra as minhas limitações, os meus medos. a minha insegurança. espero ter força, apoio e persistência para prosseguir. espero poder contar com a ajuda, de quem quer que seja e leia esta postagem. afinal, se você sabe disso que eu comentei aqui e lhe incomoda, você também pode fazer algo. deve sentir-se tão responsável - para mudar - quanto eu.

não beba muito por esses dias, não fale e não faça bobagens, ao extremo. um pouco é necessário para manter a lucidez.

e não esqueça que o mais importante é abraçar aquelas pessoas que a gente gosta, a nossa família. ainda que não tenha comprado nenhum presente.

e chega que daqui a pouco eu vou contradizer tudo que eu disse.

"Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante..."


Rodrigo

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