terça-feira, fevereiro 05, 2008

ALDEOTAS: Imperdível


Demorei para ver Aldeotas, peça agora em cartaz no TUCARENA, com texto de Gero Camilo. Principalmente se pensar que conheci a monstruosidade profissional chamada Gero Camilo através de uma outra peça com texto seu, "As Bastianas", encenada dentro de albergues em Sampa, e que possuía uma força poética impressionante. Mas o motivo era justo: o $$$ - preço. $algado. Atualmente R$ 50 paus aos sábados. R$ 40 reais aos domingos.

Mas, valeu a pena. Não só pelo fato de pagar meia - valeria a inteira se eu tivesse a grana - mas por ser uma peça simples, bela e complexa. Mágica, por trazer-nos o universo das crianças, a terra do nunca, de uma maneira inteligente e sensível.

Trata-se de uma peça de teatro como eu gosto. Sem grandes enfeites, grandes cenários. Aliás, o cenário é muito simples. Um tapete quatro por quatro no centro e algumas folhas de papel no chão. Só. É isso. Não há trilha sonora, não há superefeitos. Não há nada, além do maravilhoso jogo entre os atores da cena (Gero Camilo e Caco Ciocler), a interpretação vista diretamente pelo olho, sem intermédio, sem interlocutores; uma iluminação que convida você a participar da experiência magna da peça: usar o teu poder de criação, o teu universo imagético (prefiro imaginativo), criativo e mergulhar. Saltar de cabeça sem frescura de arrebentá-la no chão. E isso é que é o mais maravilhoso da peça. Cada um imagina a sua cidade de "Cuti das fuças", a beirada do morro, o rio, o centro da terra. A despedida. Para cada um tem o seu sabor, o seu significado, como um bom livro literário consegue transportar o leitor a seu universo.

Vale a pena deixar algumas cervejas e baladas de lado por uns dias para se embriagar desta obra poética-política-teatral tão bonita e tão necessária a nossos dias.

Se você confia em alguma besteira deste blog, eu digo: não perca.

Rodrigo
ALDEOTAS: (do sítio do TUCA) "Por sua força poética e memorialista, “Aldeotas” é um texto teatral que arranca o leitor contemporâneo do espaço e do tempo hostis da modernidade e o transporta à recordação daquelas experiências de vida mais sublimes que estão apenas adormecidas dentro de nós. Os atores Gero Camilo e Caco Ciocler interpretam a trajetória de Levi e Elias, dois amigos de infância, que se reencontram em fragmentos de memória na pequena cidade de Coti das Fuças."
LEVI “… um dia desses na vida, depois de bastante ter ido, regressei aldeota de amigos. Tinha quase outro olho. Era tudo mesmice de boa gente. A casa, a rua, passeios de adormecer de sol. Até o tempero era o mesmo, banhando a boca de desejo de comida de mãe…”
***
LEVI: sabe o que as vezes eu tenho vontade de fazer com o sol? tenho vontade de comer. de comer não, de engolir até o estômago. tenho muito essa vontade. vontade de sentir o sol na barriga. e você, do que tem vontade?
ELIAS: eu tenho vontade de comer muitos limões. sem fazer careta.
LEVI: nossa... como deve ser azedo! só de pensar eu fico com a boca cheia de cuspe.
ELIAS: pois eu tenho essa vontade.
LEVI: só que comer o sol é bem mais difícil.

Um comentário:

Vanderlan Júnior disse...

Não encontrei palavras para descrever "a emoção" que senti durante a apresentação! Por isso fico, tambem, apenas no IMPERDÍVEL!!!
(assisti ontem no SESC São José dos Campos-SP)