terça-feira, abril 29, 2008

ANTI-VIRADA CULTURAL

veja um outro lado da virada cultural, que a mídia não mostrou:
http://sentimentodefuria.blogspot.com/

aliás, nem só de flores foi a virada. para mim duas coisas muito foda me incomodaram:
1) a pertubação do sono dos justos: boa parte da população de rua tentava dormir e não ser incomodada nas ruas centrais, seus "lares", mas a galera queria mais é zoar, aproveitar, curtir e ignorar aquelas pessoas ali, seus problemas, e o fato de que estávamos invadindo, ocupando e enchendo o saco deles e depois iríamos embora e eles ficariam ali, ainda, com toda a nossa sujeira e as questões que envolvem a rua, e

2) a quantidade de droga e bebida alcoólica que rolou: gente com vinho e cachaça pra lá, maconha, cerveja e outras paradas pra cá. gente muito lôca, chapada, caindo no meio da rua, caindo em cima da grama. caindo nas calçadas, caindo pelos cantos. caindo.

lendo o blog acima - do sentimento de fúria - eu imagino o que aconteceria se toda esta parada fosse vista no show de rap. vista grossa para os outros palcos. repressão no pq. dom pedro.

além disso, não se trata de dar uma de madre teresa de calcutá - mesmo porque eu bebo - mas, as vezes eu me questiono: só chapado a gente se diverte? tenho plena convicção que não. e o foda é ver as pessoas se acabando, se corroendo até a alma. ficando lôcas a ponto de chupar o osso. sei lá. acho triste.

segunda-feira, abril 28, 2008

ser chato é legal pra caralho!

a primeira vez que ouvi acho que foi dos meus irmãos: "cê é chato hein, moleque." depois, primos, vizinhos, amigos. um dia, até a minha mãe: "eita moleque chato."

eu ficava chateado. sofria. afinal, via que todas as pessoas queriam ser legais. se faziam de legais. eram reconhecidas, convidadas para festas por serem legais. e eu, chato pra caralho, sofrendo pelos cantos do travesseiro com a minha chatice.

até o dia eu que eu disse: eu sou chato mesmo e que se foda. aceitei.

foi uma das melhores coisas que fiz.

percebi que ser chato foi o que fez eu ser diferente. questionar muitas coisas que os "legais" achavam legais. ser chato foi, digamos, o que moldou a minha personalidade. falo dela não por ser melhor ou pior do que de ninguém não. falo porque todos temos uma. e eu não abro mão da minha, de chato.

mas por que eu tô falando de tudo isso.

ah! hoje teve aula na minha escola. aula normal. as luzes voltaram. só o risco de curto-circuito continuava. e para manter a palavra de não entrar em sala enquanto não tivéssemos uma situação de segurança, fiquei na sala dos professores. sozinho. o chato. todos foram...

só não fiquei sozinho porque tive a solidariedade de alguns alunos. diziam: "sumemo professor. tem que entrar não." fiquei.

depois, protocolei uma cartinha básica na direção, dizendo que só trabalharia quando tivesse condições mínimas de segurança no trampo e, fui embora. com minha chatice. peguei o documento do Conselho de Escola protocolado na Diretoria de Ensino Leste-1 e, rumei para o centro. endereço? praça da república, mais exato a secretaria de educação.

por lá, protocolei o documento direcionado à secretária de educação do estado. "aproveita e protocola naquela sala ali", me disse a moça da recepção. fui lá e protocolei. a Ouvidoria. faltava só um lugar para o chato completar o circuito de incomodar os "poderosos" com a sua chatice: COGSP: coordenadoria geral de ensino da região metropolitana da grande são paulo. e fui lá eu, em direção ao largo do arouche, 302.

cheguei lá, surpresa: fui recebido por alguns "chefinhos". eu que só queria protocolar o documento. no começo, brabeza, questionamentos. "mas já não protocolou na diretoria de ensino? eles mandam pra gente. pra que protocolar aqui". respondi que o chato estava numa situação insustentável. vários pedidos foram feitos anteriormente. a escola em curto. não dava pra esperar. veio a resposta ríspida: "é, mas se todas as escolas começarem a vir aqui fica difícil". disse, ia ser bom. se fosse resolver o problema das escolas capengas.

troca rusgas daqui, responde rusgas de lá e, depois de um tempo, eles entenderam que eu estava certo, documentado e, não adianta ficar questionando com um chato. principalmente quando este chato conhece seus direitos e está lutando por eles. os seus e os de outros. aí a conversa mudou. começaram a tratar o chato bem. ligar daqui, pedir fax de lá. chamar fulando. e o chato começou a ver que, ser chato é legal. sua chatice estava dando resultado. as pessoas, incomodadas com ele, estavam agilizando coisas que não fariam normalmente se não tivesse um chato ali.

depois de quase duas horas chateando os outros, fui embora pra casa. algumas coisas foram feitas. não sei se vai adiantar alguma coisa ou não. mas só a sensação de estar tentando, estar fazendo, é muito boa. não desistir nunca, principalmente quando se está certo. afinal, ser chato é legal pra caralho.

sábado, abril 26, 2008

SE ALGUÉM PUDER ENVIAR UMA "LUZ", EU AGRADEÇO.


Quinta-feira, 24 de Abril de 2008 - Alunos no intervalo


NOVAS NOTÍCIAS DE UMA TRAGÉDIA JÁ DENUNCIADA


Tac. Tac. Plá. Pou! Escuridão.

Foi isto o que aconteceu nesta quarta-feira, 23 de Abril, no período da tarde, com o quadro de energia da Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita, Parque Cisper, Periferia da Zona Leste de São Paulo. No período, haviam cerca de 500 (quinhentas) crianças, de 07 à 12 anos (1ª a 6ª série), professores, funcionários e ninguém especializado (treinado) em realizar operações de saída emergencial do espaço escolar em caso de incêndio.

A tragédia – que não aconteceu, ainda – estava prevista e denunciada desde novembro do ano passado, quando foi feita a entrega de uma reforma da escola no valor de R$ 537.000,00 (Quinhentos e trinta e sete mil reais, MEIO MILHÃO DE REAIS). Problemas de oscilação de energia, queima de lâmpadas novas recém trocadas, quedas abruptas, entre outros já haviam sido notadas e relatadas a empresa que realizou a reforma, a FERMAPAL CONSTRUTORA LTDA, e a Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE, instituição do Governo do Estado responsável em fiscalizar e aprovar obras na rede pública de ensino. Apesar de tudo, a obra foi APROVADA por um fiscal da FDE. E a empresa, paga.

Com o “estouro” do quadro de energia, as aulas de 1.800 (mil e oitocentos) alunos da escola foram prejudicadas, pois além de não existir condições pedagógicas para o ensino, havia o risco de curto-circuito e incêndio do espaço escolar.

Mas, tudo isto foi resolvido. Nesta sexta-feira, as 18hs – dois dias depois que fizemos o pedido de ajuda -, engenheiros da FDE, mesma empresa que aprovou a referida reforma, foram na escola e realizaram uma “gambiarra” que garantiu o retorno da luz – parcial – e as aulas na próxima segunda-feira.

Agora fica a pergunta: será que uma “gambiarra” pode garantir que não haja curto-circuito, incêndio, e a ameaça da segurança de quase 2.000 (duas mil) pessoas, entre alunos, funcionários e professores da escola? Será que uma “gambiarra” pode garantir o que uma reforma de meio milhão de reais não garantiu?


SALA AMBIENTE: DE PÂNTANO

A determinação é: ter aula. A qualquer custo. Não importa se na escola não há uma quadra esportiva, salas de vídeo, informática, laboratório, energia ou mesmo salas de aula. Tem que ter aula. E esta não é uma mera sensação de um professor que trabalha no ensino público. É um fato. Há mais de três anos trabalhamos na Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita com estas condições. Salas com infiltrações, goteiras. Tetos despedaçando, paredes, lousas emboloradas. Em dias de chuva, salas alagadas. Para os alunos e seu humor ácido – e sincero –, a situação faz parte da nova proposta educacional do Governo do Estado, com salas ambientes: de pântano.


Sala de aula nova, dois meses após a reforma - antes das aulas

Há mais de três anos os alunos não sabem o que é ter um laboratório. Uma sala de vídeo. Sala de informática. Pior, no “país do futebol”, nem a quadra de esportes pode ser utilizada. Foi interditada dois anos atrás por não apresentar condições mínimas de segurança para a prática esportiva. Resultado: alunos revoltados.

Todas estas informações eram de conhecimento da FERMAPAL, empresa vencedora da licitação feita para realizar a reforma da escola, no ano passado. Reforma esta pedida em 2003! Não bastasse o atraso das obras, que deveria ter iniciado quatro anos antes ou, em 2007, ter sido feita nas férias, e não durante o ano letivo, a mesma realizou um trabalho ruim, de má qualidade, totalmente questionável, que já na sua execução apresentava problemas, como por exemplo em julho, depois de parte das telhas trocadas, salas de aula consertadas e pintadas, uma pequena chuva foi suficiente para alagar e destruir cinco delas(!).

Ainda assim, em outubro, a empresa realizou a entrega da obra e a FDE aprovou a mesma. E a mesma FDE vem, cinco meses depois da reforma aprovada, realizar uma “gambiarra” no quadro de energia para “garantir as aulas”.


O QUE FAZER?

Todas as providências legais e burocráticas, a nível de escola, direção e diretoria de ensino foram tomadas. No dia 25 de Abril, integrantes do Conselho Escolar estiveram reunidos em caráter extraordinário com a Dirigente de Ensino da Leste-1, responsável pela escola, e concluímos que estamos de “mãos atadas”, pois desde 2003 há pedidos para reforma ESTRUTURAL da escola, pedidos de prioridade no atendimento, ofícios, cartas. A Fundação para o Desenvolvimento da Educação e a Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo (COGESP) tem conhecimento de tudo isto. Mas, o que é feito é sempre o atendimento de pedidos emergenciais, para “dar um jeitinho”, “apagar o fogo”, o que não aconteceu literalmente até o momento mas, há o risco.

Há também indícios de que o dinheiro da obra não foi bem aplicado, para não dizer “desviado”. Há como comprovar que dinheiro público está sendo desperdiçado, indo para o ralo, junto com as águas da chuva que invadem as salas, destruindo-as, ou com as lâmpadas novas, e dois meses depois queimadas, ou com a deterioração do patrimônio público – cadeiras, carteiras, mesas, entre outros – que não suportam estas condições inadequadas. Há, com certeza, prejuízo no trabalho de professores, no aprendizagem e formação digna, humana e cidadã de quase 1.800 (mil e oitocentos) alunos. Há risco para a segurança e para a vida.

Esta situação, constatada e informada desde 2003, arrasta-se até agora, 2008. Cinco anos. Existe um sentimento generalizado que mistura revolta, frustração e tristeza. E uma pergunta: até quando?

Será necessário a concretização desta tragédia denunciada para resolvermos isto?



Rodrigo Ciríaco
Professor Titular de História
Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita
rodrigociriaco@yahoo.com.br
(11) 2943-0800 - escola

sexta-feira, abril 25, 2008

O POETA CONVIDA:

BUZO MANDA UM SALVE..


mais infos:

SACOLINHA MANDA UM OUTRO...

Inscrições abertas para o 4° Concurso Literário de Suzano

Em continuidade ao projeto de fomento à produção literária, a Prefeitura de Suzano, em parceria com a Associação Cultural Literatura no Brasil, está com inscrições abertas para o 4° Concurso Literário de Suzano. Com patrocínio da Petrobras, o projeto é nacional e publicará os 20 melhores textos de contos e poesias.

Os interessados em inscrever suas obras devem retirar o regulamento no site http://www.suzano.sp.gov.br/ ou no blog http://literaturanobrasil.blogspot.com./
O tema é livre e a inscrição é gratuita.

De acordo com a Secretaria de Cultura de Suzano, os menores de 18 anos devem apresentar uma autorização assinada pelo pai ou responsável. Serão aceitas até duas obras por inscrito, sendo que o participante poderá efetuar a inscrição em apenas uma categoria do concurso. O limite é de cinco páginas para a categoria Conto é de duas para a categoria Poesia.

A data limite para a inscrição é 24 de junho de 2008. Os trabalhos enviados após esta data ou que não estiverem de acordo com o regulamento não serão considerados participantes e, como os demais, não serão devolvidos. Para os trabalhos enviados pelo correio valerá a data de postagem. A Secretaria de Cultura de Suzano não se responsabiliza por possíveis extravios que possam ocorrer com os trabalhos enviados pelo correio. Os trabalhos entregues pessoalmente receberão protocolo de entrega.

Os trabalhos serão avaliados por uma comissão julgadora, composta por professores e escritores, que avaliará critérios como criatividade, literariedade e conteúdo. O resultado do concurso será divulgado a todos os participantes no Pavio da Cultura do dia 9 de agosto, no Centro Cultural Francisco Carlos Moriconi.

Haverá premiação em dinheiro aos primeiros colocados nas categorias Conto e Poesia, regional e nacional. Os 10 melhores trabalhos de cata categoria serão publicados na revista Trajetória Literária n° 4, que será lançada no dia 16 de dezembro de 2008. Outras informações pelo telefone (11) 4747-4180.

quinta-feira, abril 24, 2008

em breve...

algumas pessoas gostaram. falaram que é bom. outros disseram que não. muito planfetário, muito sentimento. política do pessimismo. concordaram que está bem escrito. que eu tenho sensibilidade. tá valendo. não quero unanimidade. sem pressa, com o tempo eu vou crescendo, amadurecendo.

fato é que a bomba foi armada. e não vai explodir sozinha no meu colo não. não. quero um atentado suicida-homicida nas vistas grossas de quem tiver a disposição de folhear as páginas do meu futuro livro. tá saindo. todas as neuras, todas as broncas. todas as raivas que eu tive - e tenho - e soquei no papel. algumas vezes por nocaute, noutras por pontos. mas sempre com vontade, com veneno. muito suor, trampo e veneno.

o efeito colateral que o teu sistema fez virá em contos. pequenas doses. a temática é aquilo que eu gosto de falar, respirar e viver: a escola. pra alguns é demais. "não sabe falar de outra coisa?" não. por enquanto, não. e não vejo problema. problema está neste sistema podre de ensino. que eu quero dinamitar e jogar nas mãos das meninas e dos meninos. pra reconstruir, do nosso jeito.

a data já está no esquema: 08 de junho. locais em definição. título em definição. capa e ilustras em definição. em breve, mais informação. por enquanto é isso.

do fundo do poço sem fundo


a impressão que eu tenho é de estar mergulhado dentro de um poço. bem fundo. e eu grito, alto. mas as paredes são surdas. ninguém me escuta, ninguém me dá atenção. porque mais importante é falar sobre a menina que foi jogada do prédio. e eu acho importante falar sobre a menina jogada do prédio. é uma vida. criança. precisa ser lembrada, esclarecida. a verdade revelada. como eu gostaria que alguém tivesse revelado, notado ou falado sobre a agressão que três moleques de 15 anos fizeram contra a minha mãe. tentaram assalta-la, tentaram leva-la no carro. ela resistiu. e recebeu socos, pesadas e mordidas. mas talvez as pessoas estivessem ocupadas demais com a menina que foi jogada do prédio. e não ouviram os gritos que minha mãe deu na rua, pedindo ajuda, socorro. as sete da manhã. já haviam pessoas no ponto de ônibus as sete da manhã ouvindo o socorro. o segurança no outro lado da rua ouvindo o socorro. o transeunte no outro lado da rua ouvindo o socorro. mas ele não pode fazer nada. estava pensando em como ajudar a menina.

e eu ainda no meu poço. fundo. não consigo encostar nas paredes. continuo gritando mas, ninguém me ouve. estão ainda falando sobre a menina jogada no prédio, e você viu como o pai e a madrasta choraram na entrevista? mas a voz não embargou, disse o especialista. mentira. e daí eu lembro que o poço não é tão fundo, e o poço sim, é escuro e fundo, mas isso se deve a falta de luz na minha escola, por ter queimado quadro de luz. curto-circuito no painel de energia. há dois dias os alunos da minha escola tem aula no escuro. e quem se importa? quem se importa se eles não tem, há três anos, salas de informática, sala de vídeo, laboratório. quadra. quadra de esportes. o que é uma escola há três anos sem quadra de esportes. não é nada. porque tudo seria descobrir porque aqueles filhosdaputa, assassinos, desgraçados, tiveram coragem de asfixiar uma menina pequena e jogar de um prédio de seis andares num apartamento de luxo, em são paulo. isso é o que importa. e eu não discordo. eu quero saber quem arrombou a porta. eu quero saber quem arrancou a menina da cama, cortou a tela sobre a cama, pisou em cima do lençol da cama e arremessou a menina no chão. isso importa. pelo menos assim quem sabe eles param de explorar a trágica notícia de uma criança e começam a falar das trágicas notícias de outras crianças que não tem direito sequer a sentar numa sala com luz e seu caderninho.

terça-feira, abril 22, 2008

OUTROS 500



O que chamam de descobrimento
Eu dou por invasão
O que chamam de conquista
Eu dou por destruição
O que chamam de encontro
Eu dou por extermínio
O que chamam de civilização
Eu dou por latrocínio
O que chamam de religião
Eu dou por uma desculpa
E o que chamam de tragédia
Eu dou por nossas vidas

sexta-feira, abril 18, 2008

E ontem foi muito, muito lôco. Valeu, Galdino.


LITERATURA (É) POSSÍVEL

Neuroses, grades, frustrações. As grosserias. Tudo, tudo fica pra trás. O dia irradia. Inicia-se o ritual. A primeira coisa é lembrar que estamos ali, não pela imposição das leis, do judicial, da sociedade que nos obriga a SER algo que depois não vai RECONHECER. Não, estamos ali por um ato de liberdade. Um ato da vontade. Um momento na vida em que paixões podem ser divididas. Angústias, alegrias, mágoas, risadas podem ser divididas. Através da palavra. Água. Professor, posso beber água? Vai firme. O banquete está posto. A nossa santa ceia está servida. Livros expostos. Estende-se a mão, chamamos o nosso convidado. Para iniciar a partilha. Do pão. Da palavra. O pão-lavra. Nada de escritor terno-e-gravata. A imagem no quadro, paralisada. Não, ele é uma pessoa. Parecida com a gente. Viva. Alguém inicia: cê é da Paraíba? Talvez sim, talvez não. Todos somos. Sonegamos. Como só negamos raízes negras, indígenas. Raízes nordestinas que são resgatadas com maestria, num verso bem mesclado, num cordel, num côco, embolado. Num repente chapado que alguém estranha: isso é Rap. É raiz. Poesia. E abrem-se sorrisos. Lindos. Que um dia me disseram: professor, eu não gosto disso. Isso é coisa de bicha. Eu falei: licença? Posso ler um poema? Vai né. Fazê o quê. Se a gente disser que não, adianta? Não. Vou ler. E recitando Periafricania eu fiz a introdução. O convite à poesia. Compartilhar Peri, África e uma mania: gostar de literatura. Contos, romances. Palavra-rapadura. E ele começou a perguntar: putz, eu tô virando boiola? E a menina começou a falar: professor, eu tenho uma estória. E um outro me diz, aos 12 anos: professor, eu tenho um livro. E me puxa da sua mochila azul um caderno fininho, capa verde-água, pequeno, com várias bilhetinhos, “Pensamentos de um poeta”. E eu descubro que o novo está vivo. Pulsante. E não se pode acreditar nas máscaras que querem bloquear aquele instante. Máscaras impostas para suportar uma realidade, difícil, cortante. Instigante. Poética, lírica e estética. Que me faz lembrar da antiética que é dizer: eles são burros. Idiotas. Não estão preparados para Literatura, Jorge Amado, Guimarães Rosa. Não vão gostar de Eliane Brum, Akins, ou qualquer outra prosa. Eles não tem cultura. Não estão preparados para escrever, expor seus sentimentos, mandar os recados de uma vida dura, mas com muita alegria, brincadeira e ternura. E eu digo: não. Eu aprendi que não. Não se pode dizer não, não, não, eles não sabem. Não se pode dizer que eles são incapazes, não se pode dizer que somos tão frágeis a ponto de achar que perdemos. Os campos foram todos devastados, a vida é isto. Perdemos. Não. Sei que uma andorinha não faz verão, mas não se pode dizer que do inverno não crescerão. Não sobreviverão. Não posso dizer, olhando nos olhos crescentes, que eu não acredito que o mundo pode ser melhor, que eu não vou lutar por eles. Que devemos simplesmente cruzar os braços pois não há nada a ser feito por eles. Seria um crime. Dizer que o mundo é só feio e injusto. Que não vale a pena lutar, penar, sofrer, brigar por um mundo mais justo. Pois através das palavras, através da convivência, jogando água entre pedras eu vi brotar uma flor, que resgatou a minha inocência e irradiou uma primavera, e o que antes eram feras viraram rosas - com espinhos - capazes de exalar um perfume de revolta, palavras, abraços e carinhos que me dizem: não só a literatura é possível, professor. Nóis também.






outras infos., no blog do jornal da escola:
http://www.fiquedeolho-jornalmesquita.blogspot.com/

terça-feira, abril 15, 2008

umas idéias...

tá foda.

tô cansado, suado, estressado e com sono. muito trabalho e pouco dinheiro. mas, tá limpo. não tô reclamando. não agora. só constatando. apesar de tudo, estou feliz.

domingo foi dia de lançamento da revista GRAP - Grafismo e Poesia, que aconteceu na Casa das Caldeiras, um espaço bacana localizado em frente o parque antartica (2 x 1 sampa, com gol de mão). o lançamento da revista, chapada, com vários poemas de parceiros: Michel, Sacola, Dinha, Elizandra, Akins, Allan, Dugueto... aconteceu durante o evento "pílulas da cultura", uma extensão da feira preta.

só para constar, vai ter outro lançamento da revista, que é distribuição gratuita, nesta quinta-feira, 19:30hs, na HQMix, Praça Roosevelt - Centro. quem puder, cola por lá para adquirir a sua.

ontem foi dia de reunião com as meninas do jornal, na minha escola. um trampo que faço desde o ano passado e, apesar das dificuldades, me traz muita alegria. é muito bom trabalhar com alunos interessados, motivados, ainda mais na criação de um jornal com estudantes de 12, 13 anos. uma puta de uma experiência.

outro barato que aconteceu hoje, que já venho um tempo trabalhando é o Grêmio da minha Escola. tá caminhando, hoje tiramos as propostas, tivemos debates acalorados - se antes eu reclamava da resignação, agora tô tentando segurar um pouco o ânimo da moçada, pra não derrubar o caldo antes de ficar pronto. foi muito bom, em breve teremos avanços.

outra coisa que fiz hoje (além de dar aulas, reunião do grêmio - detalhe, só recebo pela primeira) foi o primeiro encontro do projeto Literatura (é) Possível. quinta-feira começa a nova turma, e o primeiro escritor convidado será o poeta pernambucano Carlos Galdino. tudo certo e quinta, trago fotos.

e esta semana viajo para o rj, trabalho de campo do curso de Educação que estou fazendo na USP, como ouvinte. entre outras coisas más.

bom, a gente se fala.

abraço,

rodrigo

sábado, abril 12, 2008

Evento amanhã, na CASA DAS CALDEIRAS

"O Samba Pede Passagem na Casa das Caldeiras"

A Casas Caldeiras abre suas portas gratuitamente para a segunda edição das Pílulas de Cultura Feira Preta. Apresentando um novo contexto: no projeto "todos os domingos" o público tem a chance de passear por seus espaços, conhecer a história do edifício de maneira lúdica, numa visita monitorada ao Patrimônio . Poderá também assistir às apresentações dos artistas em residência, se surpreender com eventuais espetáculos, performances, oficinas, ciclos de palestras e pesquisa, documentação artística e cultural.

Para o próximo domingo dia 13 de abril o Projeto Pílula de Cultura Feira Preta, apresenta a edição especial de samba, trazendo manifestações artísticas afro-brasileiras, exposições de caricaturas e fotos, exibição de curtas, intervenções poética, entre outras atividades culturais.

O projeto Pílula de Cultura Feira Preta, surgiu a partir do evento Feira Preta, e apresenta uma proposta criativa e engajada com o seguinte questionamento:

"Qual o espaço da cultura negra hoje?".

O intuito da projeto é levar manifestações artísticas, voltadas para a cultura negra contemporânea que normalmente não estão presentes nos grandes circuitos culturais e ao mesmo tempo provocar uma reflexão sobre o espaço que a cultura negra tem ocupado na sociedade brasileira em seus diversos setores, que ultrapassa os limites das artes e dos esportes.


A segunda edição, recebe um projeto montado especialmente para essa Pílula de Cultura Feira Preta. Tendo como tema o " Samba Pede Passagem", convidamos integrantes das comunidades do Samba da Vela, Samba do Cafofo, Samba da Laje e Comunidade de São Mateus que reproduzirão um autêntico Terrero de Samba, apresentando compositores tradicionais e renomados, como Cartola, Clara Nunes, Geraldo Filme, além de resgatar grandes nomes da Velha Guarda que estão esquecidos.

A Intervenção artística ficará por conta da exibição do documentário "Samba à Paulista, fragmentos de uma história esquecida". O vídeo documentário realizado pelos alunos da ECA e FFLCH em março de 2005 retrata a peculiaridade do samba de São Paulo, contando a história da vinda do negro para capital e sua ocupação marginalizada no espaço urbano.

Além disso a revista GRAP fará uma intervenção poética homenageando Luis Gama, grande poeta, abolicionista e advogado autodidata. A Revista GRAP é uma coletânea poética e visual de jovens talentos revelados na periferia que propõe o complemento da poesia com as Artes Visuais em formato de revista.

Será montada uma pequena mostra fotográfica do Samba da Vela e ainda, exposição do grafiteiro Thiago Vaz que ilustra através de técnicas de grafite, caricaturas de ícones da música negra brasileira.

Convide os amigos, traga a família, venha cantar e dançar com a gente, e desfrute de um domingo cultural e intimista, sinta se em casa, ou melhor em um grande terreiro de samba...
Realização: Casa das Caldeiras, Parceria: Pretamultimidia, Patrocínio: Societe Generale – Instituto de Responsabilidade Social, Ministério da Cultura – Lei de Incentivo a cultura e Apoio: Ação Educativa

Para mais informações:

Dia 13 de abril (Domingo)
Horário: Das 15 às 20h
Entrada: Livre e Gratuita
Casa as Caldeiras: (Espaço De Dinâmicas Artísticas E Culturais)
Avenida Francisco Matarazzo 2000 - Água Branca

Tel/Fax: Pretainfo (11) 3031-2374 e Casa das Caldeiras: 3873-6696
E-mail: cultural@casadascaldeiras.com.br ou feirapreta@uol.com.br
Site: http://www.casadascaldeiras.com.br/


VALET PARK NA ENTRADA


P.S: As Pílulas de Cultura, não é a feira e sim um desdobramento da Feira Preta, ou seja um novo projeto mais conceitual e mais intimista, na verdade é um manifesto cultural, questionador e reflexivo. Para que vc vista essa causa, no dia estaremos comercializando uma linha de camisetas, criada especialmente para esse projeto



P.S.: quem quiser colar, eu estarei por lá, depois das 16hs, pra curtir o evento e retirar um exemplares da revista GRAP - Graffiti e Poesia - na qual tive a honra de participar, junto com alguns outros guerreiros da Cooperifa. Então, té mais.

terça-feira, abril 08, 2008


Doze. Pode anotá. Num tá errado não seu moço. É doze, treze tonelada, Por dia. Pra mais. Pra menos. Depende da saúde, do que Nossa Senhora quisé. Mas a gente não reclama não. A gente tem emprego. Melhó do que robá. O não?


Óia, acordo as quatro, três horas depois tô aqui. Fico até as cinco. Chêgo em casa, janto, tomo banho e vô dormi. No otro dia a mesminha coisa. Acordo as quatro, preparo a marmita, três horas depois tô aqui. Fico até as cinco. Chêgo em casa, janto, tomo banho e vô dormi. Tem mudança não. É assim, cinco por um. Num tem sábado, feriado, dia santo. Só Jesus. No Natal eles dão uma folga pra gente.


Cansá? E pobre tem descanso, moço? Só quando morre. A gente só pára pra comê um negócinho né, se alimentá. Sete da manhã chega, senta, comi a primera parte, quié pra guentá. Nosso desjejum. Aí, trabalha, trabalha. As dez, pega o cantil, senta e come mais um pouco. Aquele calô, a gente suano pra daná. A uma da tarde de novo, pára pra almoçá. E a comida é a mesma, como tú sabe. Fria. Arroz, uns grão de fejão. Alface. Carne é de vez em quando. No mais é isso mêmo.


Esperança é Jesus né moço. Todo dia eu olho pro céu e sei que Deus tá comigo. Porque no meio dessas cana, no meio desses cabra dá pra esperá o que além de picada de cobra, do golpe do facão escapano da mão? Espera nada não. Já vi muito rapaz aí, parecia saudável, caí duro, abraçado no canavial. Quem espera cansa. E a gente trabalha. Dizem que é pro futuro do país. Num sei.

A MINHA RAIVA NÃO PODE ESPERAR


Me desculpe, me desculpe,
Me desculpe.
Mas, a minha raiva tem pressa.

A minha raiva não pode esperar
O preço do feijão abaixar
O corredor do hospital esvaziar
Os sem-teto, e a construção de novas moradias.

A minha raiva
Não pode esperar
Novos planos políticos, econômicos
Novos mandatos, novos Governos
Desgovernados.

A minha raiva não pode esperar.
Ela tem nome:
_________fome.
De empregos, saúde, salários,
Melhores condições aos proletários
Melhores condições de vida.

A minha raiva quer ser
Um atentado terrorista
Em pleno céu azul.

A minha raiva quer
Em plena praça pública, matar
O preconceito, a passividade,
A indiferença e a desigualdade.

A minha raiva tem sede
E quem tem sede precisa beber,
Senão morre.

A minha raiva tem sede
Se for pra esperar o Amanhã
Será de Vingança.

Vamos saciá-la hoje
Enquanto acredita ainda na Justiça

domingo, abril 06, 2008

Com Respeito,

à TODAS, TODAS as mães que choram por seus filhos e filhas


Nos olhos vendados
Na balança da Justiça
Não existe discriminação
Social, Racial

Todo mundo tem
Direito à Vida
Todo mundo tem
Direito Igual

Mas a notícia semanal
Que me chega pela revista
Desmente-se o dito
Mostra-se o real

O pretinho no morro
É mera estatística
A menina do prédio
É capa de jornal

Todo mundo tem
Direito à Vida
Todo mundo tem
Direito Igual

Afirmo tal verdade
Entre amigos e família
E sou escurraçado
Como fosse um animal

- Você só defende bandido
Direitos humanos, injustiça
e os direitos das vítimas
e os direitos do policial?

Todo mundo tem
Direito à Vida
Todo mundo tem
Direito Igual

Concordo com a questão
Posta e discutida
E reafirmo minhas idéias
Reafirmo meu Ideal

Não se trata de dizer
Que o pobre é sempre vítima
Não se trata de dizer
Que o rico é sempre mau

Se trata de afirmar
Uma constatação dolorida
De que no Brasil
Pobreza e desigualdade
É uma Violência real

Se trata de afirmar
Uma verdade ainda não dita
Que causa revolta
E males para o povo
em Geral

Nem todo mundo tem
Direito à Vida
Nem todo mundo tem
Direito Igual

sábado, abril 05, 2008

Entrevista - Gramatica da Ira

O guerreiro pediu: pode conceder uma entrevista? Me senti na obrigação afinal, o guerreiro se trata de Nelson Maca, da Blackitude - BA, parceiro das letras. Acho que me empolguei na parada, escrevi bastante, e você pode conferir o bate papo no blog deste sangue-bom:

http://www.gramaticadaira.blogspot.com/

Maca: fiquei muito feliz, lisonjeado com o nosso papo.
Valeu mesmo. Precisando, chama nóis.