sábado, abril 26, 2008

SE ALGUÉM PUDER ENVIAR UMA "LUZ", EU AGRADEÇO.


Quinta-feira, 24 de Abril de 2008 - Alunos no intervalo


NOVAS NOTÍCIAS DE UMA TRAGÉDIA JÁ DENUNCIADA


Tac. Tac. Plá. Pou! Escuridão.

Foi isto o que aconteceu nesta quarta-feira, 23 de Abril, no período da tarde, com o quadro de energia da Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita, Parque Cisper, Periferia da Zona Leste de São Paulo. No período, haviam cerca de 500 (quinhentas) crianças, de 07 à 12 anos (1ª a 6ª série), professores, funcionários e ninguém especializado (treinado) em realizar operações de saída emergencial do espaço escolar em caso de incêndio.

A tragédia – que não aconteceu, ainda – estava prevista e denunciada desde novembro do ano passado, quando foi feita a entrega de uma reforma da escola no valor de R$ 537.000,00 (Quinhentos e trinta e sete mil reais, MEIO MILHÃO DE REAIS). Problemas de oscilação de energia, queima de lâmpadas novas recém trocadas, quedas abruptas, entre outros já haviam sido notadas e relatadas a empresa que realizou a reforma, a FERMAPAL CONSTRUTORA LTDA, e a Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE, instituição do Governo do Estado responsável em fiscalizar e aprovar obras na rede pública de ensino. Apesar de tudo, a obra foi APROVADA por um fiscal da FDE. E a empresa, paga.

Com o “estouro” do quadro de energia, as aulas de 1.800 (mil e oitocentos) alunos da escola foram prejudicadas, pois além de não existir condições pedagógicas para o ensino, havia o risco de curto-circuito e incêndio do espaço escolar.

Mas, tudo isto foi resolvido. Nesta sexta-feira, as 18hs – dois dias depois que fizemos o pedido de ajuda -, engenheiros da FDE, mesma empresa que aprovou a referida reforma, foram na escola e realizaram uma “gambiarra” que garantiu o retorno da luz – parcial – e as aulas na próxima segunda-feira.

Agora fica a pergunta: será que uma “gambiarra” pode garantir que não haja curto-circuito, incêndio, e a ameaça da segurança de quase 2.000 (duas mil) pessoas, entre alunos, funcionários e professores da escola? Será que uma “gambiarra” pode garantir o que uma reforma de meio milhão de reais não garantiu?


SALA AMBIENTE: DE PÂNTANO

A determinação é: ter aula. A qualquer custo. Não importa se na escola não há uma quadra esportiva, salas de vídeo, informática, laboratório, energia ou mesmo salas de aula. Tem que ter aula. E esta não é uma mera sensação de um professor que trabalha no ensino público. É um fato. Há mais de três anos trabalhamos na Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita com estas condições. Salas com infiltrações, goteiras. Tetos despedaçando, paredes, lousas emboloradas. Em dias de chuva, salas alagadas. Para os alunos e seu humor ácido – e sincero –, a situação faz parte da nova proposta educacional do Governo do Estado, com salas ambientes: de pântano.


Sala de aula nova, dois meses após a reforma - antes das aulas

Há mais de três anos os alunos não sabem o que é ter um laboratório. Uma sala de vídeo. Sala de informática. Pior, no “país do futebol”, nem a quadra de esportes pode ser utilizada. Foi interditada dois anos atrás por não apresentar condições mínimas de segurança para a prática esportiva. Resultado: alunos revoltados.

Todas estas informações eram de conhecimento da FERMAPAL, empresa vencedora da licitação feita para realizar a reforma da escola, no ano passado. Reforma esta pedida em 2003! Não bastasse o atraso das obras, que deveria ter iniciado quatro anos antes ou, em 2007, ter sido feita nas férias, e não durante o ano letivo, a mesma realizou um trabalho ruim, de má qualidade, totalmente questionável, que já na sua execução apresentava problemas, como por exemplo em julho, depois de parte das telhas trocadas, salas de aula consertadas e pintadas, uma pequena chuva foi suficiente para alagar e destruir cinco delas(!).

Ainda assim, em outubro, a empresa realizou a entrega da obra e a FDE aprovou a mesma. E a mesma FDE vem, cinco meses depois da reforma aprovada, realizar uma “gambiarra” no quadro de energia para “garantir as aulas”.


O QUE FAZER?

Todas as providências legais e burocráticas, a nível de escola, direção e diretoria de ensino foram tomadas. No dia 25 de Abril, integrantes do Conselho Escolar estiveram reunidos em caráter extraordinário com a Dirigente de Ensino da Leste-1, responsável pela escola, e concluímos que estamos de “mãos atadas”, pois desde 2003 há pedidos para reforma ESTRUTURAL da escola, pedidos de prioridade no atendimento, ofícios, cartas. A Fundação para o Desenvolvimento da Educação e a Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São Paulo (COGESP) tem conhecimento de tudo isto. Mas, o que é feito é sempre o atendimento de pedidos emergenciais, para “dar um jeitinho”, “apagar o fogo”, o que não aconteceu literalmente até o momento mas, há o risco.

Há também indícios de que o dinheiro da obra não foi bem aplicado, para não dizer “desviado”. Há como comprovar que dinheiro público está sendo desperdiçado, indo para o ralo, junto com as águas da chuva que invadem as salas, destruindo-as, ou com as lâmpadas novas, e dois meses depois queimadas, ou com a deterioração do patrimônio público – cadeiras, carteiras, mesas, entre outros – que não suportam estas condições inadequadas. Há, com certeza, prejuízo no trabalho de professores, no aprendizagem e formação digna, humana e cidadã de quase 1.800 (mil e oitocentos) alunos. Há risco para a segurança e para a vida.

Esta situação, constatada e informada desde 2003, arrasta-se até agora, 2008. Cinco anos. Existe um sentimento generalizado que mistura revolta, frustração e tristeza. E uma pergunta: até quando?

Será necessário a concretização desta tragédia denunciada para resolvermos isto?



Rodrigo Ciríaco
Professor Titular de História
Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita
rodrigociriaco@yahoo.com.br
(11) 2943-0800 - escola

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