domingo, julho 13, 2008

DE FRENTE COM O ESPELHO

Não sou um escritor. Não sou. Sou uma pessoa que gosta de escrever e pronto. Preciso escrever. Mas odeio texto por encomenda. Travo quando tenho um texto por encomenda. A obrigação. Odeio prazos. Odeio regras. Odeio ser enquadrado. Odeio gente gritando "Vai, encosta aí. Encosta aí na cadeira, vagabundo. Mão no papel. Hã? Anda. Mão no papel. Agora abre a caneta. Abre bem a caneta. Agora vai. Escreve aí, seu malandro!"

Não sou um escritor. Não sou. Preciso dizer isso com mais convicção. Preciso dizer isso com mais vontade, mais firmeza. Preciso começar a dizer não. Para os amigos, para as encomendas. Essa coisa de texto encomendado é um saco. Minha mãe quer que eu faça um texto pra ela. Minha namorada espera que eu faça um texto pra ela. Até o meu cachorro, de olhos caídos, escorridos a quem eu vivo chamando de vagabundo - pelo fato dele invadir a cozinha e roubar a minha comida - me pede que eu escreva um conto. Um poema, um romance. Não quero. Odeio texto encomendado. Eu não sou um escritor.

E daí que eu já tenho um livro. Já disse, ele aconteceu, não foi planejado. Foi o primeiro. Se não vierem outros, o que importa. O que eu escrevo não necessariamente precisa ser publicado. Precisa ser exposto, faturado. Eu preciso dizer não. Se quer um poema, eu mando. Se quer um conto, eu dou. Pego do que eu tiver pronto. E ponto. Agora, se quer uma encomenda, vai a merda. Não me cobre, não me trave. Não espere nada de mim. Eu não sou um escritor. Eu sou uma pessoa que gosta de escrever. Apenas isso. Entendeu?

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