sábado, agosto 30, 2008

A PLACA


A minha aluna virou uma Placa. Há três meses ela deixou de vir à escola por isso: virou uma Placa. E não uma placa qualquer, de trânsito, que ninguém respeita. Ela virou uma Placa publicitária. Agora tem uniforme, endereço e identidade. Não fica mais à margem. Fica na porta dos shoppings, concessionárias e futuros edifícios, se auto-promovendo: A Placa. Com pernas.

A minha aluna virou uma Placa. Ela diz sentir muito orgulho da empresa em que trabalha. Construtora. Grande. Bem conceituada. Vende casas de alto padrão, para pessoas de bem, alto poder aquisitivo. Luxo. Seus condomínios têm quadra de tênis, piscinas, bancos; centro de compras particular, segurança e conforto. Diz que a tendência do futuro são os ricos não saírem mais de suas caixas, seus bunkers. Para eles tudo será Prime, Van Gogh. Personalité.

A minha aluna virou uma Placa. Aconteceu na porta da escola. Um homem parou o carro importado, abaixou o vidro e disse: - Você leva jeito para Placa. Um cara branco, alto, malhado; peito raspado, gel e gravata. Big boss. Ele não perguntou idade, se tinha experiência ou carteira registrada. Pediu apenas para tirar o óculos, soltar o cabelo. Pronto. Bonita. Está contratada.

A minha aluna virou uma Placa. Ela diz que trabalha numa empresa ética, séria. Não registram, mas pagam todos os impostos. Todo final do dia ela recebe o seu salário. E vai embora pra casa. A empresa só fez uma exigência: que deixasse a escola. Questão de escolha. O trabalho é das nove da manhã as sete da noite. Segunda a domingo. E sempre há um novo bico. Setor imobiliário em expansão. As propostas estão em expansão. Eles precisam de Placas. Ela já é uma Placa. Quem precisa de estudo?

A minha aluna virou uma Placa. Outro dia, pura sorte, eu a encontrei. Andando sozinha, pela noite, voltava do serviço. Descaracterizada. Não parecia ser a menina frágil dá sexta série que até outro dia eu conheci. A menina tímida que sonhava em ser modelo, e só estudava. Falei: - E aí? Você precisa voltar pra escola. Ela respondeu, em tom de deboche: Eu não! Já tinha uma profissão. Tinha seu próprio dinheiro, ajudava a mãe em casa. Responsável, não precisava mais de conselhos, não precisava de mais ninguém. Só do big boss, o chefinho. Aquele que lhe deu valor. Deu emprego, deu presentes, prometeu castelos. O único que não lhe fez se sentir mais como uma qualquer. A transformou numa Placa.

Uma Placa-viva.


conto retirado do livro TE PEGO LÁ FORA,
de Rodrigo Ciríaco. Edições Toró, 2008

COMUNIDADE NO ORKUT

aviso aos usuários do orkut: eu criei uma comunidade do meu livro, "Te Pego Lá Fora", para que possamos reunir os leitores do livro, além de discutir assuntos relacionados à educação, literatura e outras cositas mas.

quem tiver interesse, entra lá. o link está abaixo:
http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=66450289

abraço

quinta-feira, agosto 28, 2008

PRÁTICA DE ENSINO

salve, povo.

hoje tive uma experiência diferente. a convite da fernanda - aluna do curso de história da Unicsul que faz estágio comigo no Mesquita - e da sua prof. Maíra, da disciplina "Prática de Ensino" (acho que é isso), fui convidado a fazer um bate-papo com os alunos do curso.

fiquei feliz pelo motivo ao qual fui convidado: disseram que, ao analisar os relatórios de estágios dos alunos, havia uma discrepância muito grande entre o discurso pedagógico dos professores e a prática educativa. e que eu era um dos poucos professores em que isso não acontecia. além disso acharam interessante outros trabalhos que desenvolvia na escola. resolveram me convidar para trocar idéias.

fui sem elaborar nada detalhadamente. queria ver como fluíam as idéias, sem nada muito discursivo. falei um pouco de minha trajetória educativa, formação e, principalmente, do cotidiano dentro de um escola pública da periferia - e que escola! logo depois, abrimos para perguntas, esclarecimentos.

foi bacana e interessante o bate-papo. estava lá como convidado, o pessoal foi bem cortês e pegou leve comigo. acho que falei um tanto quanto demais mas, é um defeito que morrerá comigo. incurável, fazer o quê?

no mais, sem muito assunto.

só para constar, hoje fiz a perícia médica e, apesar do médico chegar apenas uma hora e quinze minutos depois do horário(!), ele ratificou a minha licença devido a tendinite, bursite e outros ites que venho sofrendo por estes tempos.

até.

terça-feira, agosto 26, 2008

VENTOS DA MUDANÇA

salve, povo. novidades à vista. e a prazo também.

quem acompanha o blog há algum tempo sabe da minha maratona pela Educação Pública. mais especificamente a minha escola, que é onde eu acredito que posso intervir não apenas mais rapidamente, mas de maneira mais prática e transformadora.

além das minhas aulas, há dois anos que realizo trabalhos paralelos, como os projetos do jornal e o literatura (é) possível. projetos que me trazem muita alegria principalmente pelo apoio e reconhecimento dos alunos na escola.

este ano os projetos até ficaram um pouco de lado pois desde que eu estou na escola - há três anos - temos problemas na questão organizacional e administrativa que, no meu entender, não davam mais para serem adiados. eu não conseguia mais fazer a linha diplomática: conversar, pedir, quase implorar, para que pessoas trabalhassem, cumprissem o seu horário, agissem de maneira profissional. pois bem, fui para o choque, o confronto.

não é uma opção sadia. os meus ombros que o digam. tudo o que aconteceu na escola nos últimos tempos foi muito desgastante, exigiu uma disposição física, mental e psicológica que nem sei se eu tenho e, durante algum tempo, tive a nítida impressão de que nada havia valido a pena. apesar de todo enfrentamento, pouco havia mudado.

mas estava com a consciência tranquila, sabendo que fiz o melhor não apenas para mim, mas para a escola. com exceção dos ombros, colocava a cabeça sossegada no travesseiro.

entretanto, ontem os ventos da mudança sopraram mais forte. transformações aconteceram na escola. a minha diretora foi afastada.

acredito que esta é a atitude mais sensata - e demorada - tomada pela diretoria de ensino tendo em vista todas as denúncias e problemas que a mesma já possui conhecimento há mais de dois anos. garante não apenas a idoneidade da investigação mas, que as partes do processo (alunos e professores) não sejam afetados pela pessoa investigada.

algumas pessoas da escola me ligaram - quase que soltando rojões - para comentar a novidade. fiquei feliz, sim, com a saída da referida pessoa. acredito que não fazia um bom trabalho, mas não acho motivo para comemorar. não enquanto não souber quem virá e se esta, quando chegar, terá compromisso com a Educação, com respeito ao profissionalismo, aos alunos e colegas. enquanto não tiver a certeza que esta pessoa veio para trabalhar, cobrar, exigir, celebrar as mudanças na escola, o aprendizado dos alunos, etc.

que fique claro, ao contrário de vários outros professores: meu problema com a direção não foi pessoal, foi profissional. para mim não importa quem está lá em cima, se "eu gosto ou não". a única coisa que importa é que me respeite, respeite os meus alunos e faça um bom trabalho, acima de tudo com ética, seriedade e compromisso com a verdade.

que os ventos da mudança cheguem, e que possamos comemorar as boas-novas.

rodrigo

sábado, agosto 23, 2008

O CATIVEIRO

Já faz alguns meses que tô fechado. Lugar apertado, úmido. Muito barulho e pouca luz.

O meu cativeiro.

Alguns dizem que eu valho ouro. Outros, pelos cantos, dizem que eu sou uma desgraça. Eu não fico chateado. Eu nem ligo. Pouca gente conversa mesmo comigo. Não os conheço, nunca os vi. Todos são estranhos.

Só tem uma mulher que não.

Ela me dá alimento. Algumas vezes, sem perceber, pega-se passando a mão sobre a minha cabeça, os meus pés, me fazendo carinho.

Tenho a impressão que é a única que gosta de mim.

Muitas pessoas passam aqui próximo, principalmente durante o dia. Ouço as crianças brincando na rua, as senhoras conversando enquanto fazem bolo e fofoca.

Algumas vezes ouço uns estampidos, uns pipocos. Primeiro o silêncio. Depois, choros. “Mais um fia, mais um”, diz uma senhora com a voz cansada. “É menos um, mainha. Menos um” responde a mulher.

E assim, seguimos.

Todo dia, de noitinha, aparece um homem na casa.

Na maior parte das vezes não diz nada. Percebo que tira a camisa suada, coloca em cima da cadeira. Pega um prato, garfo e faca e dá um beijo na mulher. Ela o serve.

Eu não o vejo, mas sinto que ele olha pra mim. De certa forma eu o respeito. Nunca me fez mal. Mas eu tenho um pouco de medo. Principalmente quando o escuto ao telefone, agitado, negociando valores. Não cansa de repetir: -“Eles tão brincando com a gente. Eles só podem estar brincando com a gente”.

Quase entro em pânico: e se resolverem dar um fim em mim?

Não. A mulher me protege.

Mas eu já estou cansado de ficar neste lugar fechado.

O negócio que eu quero fazer é arriscado. Sou pequeno, tô trancado e mesmo quando eles dormem eu ouço um latido rouco, grosso, vindo lá de fora. Deve ter um cachorrão enorme vigiando a casa.

Mas não tem jeito. Eu preciso tentar.

Eu preciso fugir.

Resolvi que seria esta noite.

Todos estão dormindo. Só se ouve o ronco do sono profundo.

Fazendo o mínimo barulho, resolvo escavar um buraco.

De repente a mulher se mexe. Eu paro. Respiro fundo.

Vi que ela só tinha virado de lado e resolvo continuar. Cravei minhas unhas naquela parede gelatinosa e comecei a afundar os meus dedinhos. É agora ou nunca. Mas aí, a mulher acordou. Pronto, percebeu o meu intento. Agora é tarde demais.

Eu tô fudido!

Ela deu um grito. O homem dormindo ao lado dela acordou. Ela continuou esperneando. A cama começou a ficar molhada. Havia um pouco de sangue.

Meu Deus!

O cara pulou da cama com tudo. Vestiu uma roupa e saiu. A mulher gemendo, me apertava. Estranho, parecia que ela queria me sufocar. Eu queria dizer “Pára, cê tá doida?” Mas não saía a minha fala. Comecei a me debater.

O homem da cama voltou com um estranho. Pegaram a mulher no colo e saíram. Eu fui junto, não tinha outra opção. Colocaram a gente num carro e saíram a milhão. O cara que dirigia era ligeiro. Nas curvas eu e a mulher éramos jogados de lado. Na lombadas, cada pulo. Até que paramos.

Aquele barulho, correria danada e, deitaram a mulher. Perguntaram como seria e ela falava: -“Normal. Vai ser normal” Eu tava começando a achar que ela era loquinha de pedra. Nada ali tava normal.

Foi então que eu senti.

Putz, já não bastava aquele lugar ser apertado, precisavam me espremer? Só escutava os cara falar: -“Respira, respira fundo. Agora força, força!”. A mulher gritava, tava fazendo uma força danada, e aquela parede gelatinosa diminuindo, me apertando. Caramba, pensei, vocês querem me matar aqui?

Até que eu vi a luz. Depois de tanto tempo no escuro, a luz. Ela quase me cegou, eu tive que fechar os olhos. Mas era uma luz. Parecia indicar uma porta, ela me chamava. Era por ali que eu tinha que sair.

Eu fui.

Coloquei primeira a cabeça. Já tinha ouvido alguém falar que se passa a cabeça todo o restante do corpo passa, então fui. Apertando, espremendo, os caras gritando, a mulher forçando, até que Uaaaaaaargh! Eu saí. Depois de tantos meses, eu saí! Não me contive. Depois de tanto aperto, tanta dor, eu finalmente estava livre. Podia esticar meus braços, pernas, não precisava mais me encolher. Eu estava livre. Até gritei:

Uéééééééééééééé. Uuuuuééééééééééééééé.

Uma mulher toda de branco me enrolou. Só fiquei com a cabeça exposta. Me virou em direção a outra mulher, que estava deitada.

Antes de me colocar em seus braços, eu olhei para o buraco da onde havia saído e pensava: caraca, como é que eu passei por ali?

A mulher estava com o rosto inchado. E chorava. Um choro contido, meio soluçando. Os lábios tremendo. Ela beijou o meu rosto. Foi aí que eu entendi uma palavra até então estranha para mim.

Mamãe.

Tinha um homem em pé do lado dela. Só ficava falando: -“Ele é lindo. Ele é lindo”. Reconheci a voz. Era a mesma do cara que negociava ao telefone. Papai. Gente fina o cara. Tá devendo uma grana danada pro pessoal que fez o meu berço, mas vive dizendo que não tem problema. O importante é a minha saúde. Do resto ele cuida. “Sô batalhador”, ele diz.

Eu acredito.

quinta-feira, agosto 21, 2008

PAUS-MANDADOS

Isso explica um pouco a incompetência de vários diretores regionais de ensino, além do fato de "passarem a mão" na cabeça de diretores de escolas ausentes e irresponsáveis: é tudo pau-mandado!

Enquanto não tivermos um projeto de política pública para a Educação e sim políticas partidárias, teremos o que temos no ensino hoje: nota zero.


Governo de São Paulo loteia diretorias de ensino


Pelo menos 40 dos 91 cargos foram nomeados após indicação feita por políticos


Governo Serra afirma que aceita indicações de políticos, mas só nomeia o dirigente depois de rigorosa análise técnica


O governo de São Paulo loteou entre os políticos da base aliada as diretorias regionais de ensino -órgãos de natureza técnica, responsáveis pela implementação dos programas educacionais em todos os municípios do Estado.


Nas últimas quatro semanas, a Folha identificou o padrinho político de 40 delas, das 91 existentes. São deputados, prefeitos e dirigentes partidários, isso quando o dirigente não é, ele próprio, militante político.


O esquema de loteamento político para o cargo é antigo, mas havia cessado no governo Mario Covas (1995-2001), quando foi implementado um sistema de provas e entrevistas para a escolha dos nomes.


O sistema de indicações, porém, voltou a funcionar na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), foi mantido por Cláudio Lembo (DEM) e continua a vigorar com José Serra (PSDB).


A função de dirigente de ensino é estratégica para a Secretaria da Educação, uma das áreas mais criticadas em razão das baixas notas obtidas pelos estudantes paulistas nas avaliações pedagógicas periódicas.


Além de implementar as políticas oficiais, as diretorias de ensino (ex-delegacias de ensino) são responsáveis por encaminhar as demandas das escolas de sua região, como compra de material, contratação de docentes, reformas e vagas.


Por sua vez, muitos dos políticos que apadrinham um dirigente buscam exposição pública e facilidades para sua base política, como vaga nas melhores escolas para filhos de eleitores. O governo nega tal poder -diz que as decisões respeitam critérios técnicos.


"Paus-mandados"

Rose Neubauer, secretária da Educação na gestão Covas, critica as indicações políticas para o cargo. "O delegado não tem compromisso com o projeto do governador. Tem apenas com o político que o indicou", diz. "Para aplicar as mudanças necessárias, você não pode ter dirigentes vistos apenas como "paus-mandados" de políticos."


Rose diz que Covas acabou com esse sistema, apesar das pressões. "É preciso ter coragem. Você se indispõe com sua base política, mas mostra que prioriza critérios técnicos."


A diretoria de Catanduva é um exemplo da interferência na rede de ensino. Uma dirigente regional criticada pelo deputado estadual Geraldo Vinholi (PDT) perdeu o cargo.


O pedetista, hoje candidato a prefeito, queria ter acesso a escolas, falar com a "comunidade escolar", como ele conta, mas a diretora impedia. "Ela era de difícil relacionamento", diz. Para evitar novas reclamações do deputado, o governo resolveu consultá-lo antes de nomear a sucessora. "Mas o cargo não é meu", afirma Vinholi.


Para ocupar o posto de dirigente, é necessário lecionar há dez anos na rede ou estar há oito anos no sistema, sendo dois anos em cargos de chefia.


O salário-base de um dirigente, incluindo gratificações, é de R$ 4.440 (diretor de escola recebe no mínimo R$ 2.320). Ele pode nomear cargos para sua equipe -mas as escolhas são submetidas à secretaria.


"O problema é que nem sempre a pessoa indicada está apta para exercer a função", diz o vice-presidente da Apase (sindicato dos supervisores de ensino), Severiano Garcia Neto.


Escolha técnica

Por meio de sua assessoria, o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, responsável pela coordenação política de Serra, diz que encaminha para a pasta da Educação os currículos enviados por políticos. Afirma, porém, que o dirigente de ensino só é escolhido após rigorosa análise técnica.


Por meio de nota, a titular da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, diz também que a troca de dirigentes ocorre após avaliação técnica e nega sofrer pressões para as nomeações dos postos.


O governo Serra anunciou que vai aplicar provas de proficiência aos atuais dirigentes de ensino. Quem for reprovado terá de freqüentar cursos de aperfeiçoamento e, caso não passe em nova avaliação, perderá o cargo. Ainda não há data anunciada para os exames.


"Uma medida como essa é revolucionária. Vai acabar com o troca-troca de nomeações políticas que conspiram contra a eficiência da administração pública", disse Serra ao lançar o programa, em julho.


ABUSADOS


Parte dos funcionários públicos goza-se na satisfação quase sádica de destratar ofender humilhar e maltratar os cidadãos e cidadãs escondendo-se covardemente atrás de um cartaz na parede que profere uma lei humilhante e retrógrada que jura detenção ou melhor dizendo de seis meses a dois anos de prisão aqueles que por ventura exigirem algo básico e constitucional como os seus direitos garantindo aos servidores públicos a segurança estabilidade e ousadia de burlar a lei maior de relação estabelecida entre todos os seres vivos conhecida como RES-PEI-TO.

DIÁLOGO DE MENINO COM MENINA


Primeiro dia de aula da aluna nova na escola. O menino sentado à sua frente vira para trás, puxa conversa:

- Oi?
- Oi.
- Como cê chama?
- Maíra.
- Ah. Eu sou o Luan.
- Legal.
- De que escola cê veio?
- Eu vim do CEU.
- Puuutz, meu. Que azar!
- Por quê?
- Ah! Bem-vindo ao inferno...

terça-feira, agosto 19, 2008

QUEIXO DE VIDRO

Hoje, como parte do café da manhã,
Eu matei um homem.

Olhando nos meus olhos ele dizia
Que eu era um fraco
Que meus sonhos utópicos
Eram nada mais do que um fiasco.

Insinuou que as minhas tragédias
Mais pareciam comédias
Que eu era um palhaço
De um circo sem homens
Sem picadeiro.

Abusado!
Dei-lhe logo um soco na cara
E com as mãos sangrando
Eu tive uma certeza:
Nem sempre confie
No espelho.

CASTELOS DE AREIA

Nossos sonhos são como
castelos de areia
É preciso saber construí-los
Para que a primeira ventania
Não os transformem em poeira

O POETA CONVIDA




sábado, agosto 16, 2008

RICO GOSTA DE ESCOLA PÚBLICA, SIM


Rico gosta de escola pública, sim. Principalmente se for Engenheiro, Empreiteiro, grande escritório na Berrini ou no Centro. Concorrer a licitações, apresentar o valor mais baixo e prestar o pior serviço. Anotar vinte telhas quando se trocam cinco. Reformar doze salas quando se pintam duas. Modernizar toda a fiação elétrica colocando só o cano de proteção por cima, para proteger em caso de curto-circuito totalmente previsível. Rico gosta, sim.

Rico gosta de escola pública, sim. Principalmente se for dono de Editora. Sabe, aquela famosa? Aquela que vai despachar todos os livros infantis, didáticos, paradidáticos. Todo o lixo que estiver encalhado, será levado. Os governos são os principais compradores de livros. E não interessa se serão lidos. Se os livros serão encaixotados, fechados, trancados as sete chaves dentro de armários com medo de que sejam roubados. Não é problema do editor, ele é um bem-feitor. Já vendeu todo o seu estoque à Escola. Rico gosta de escola pública, sim.

Rico gosta de escola pública, sim. Principalmente se for Médico, Empresário, Advogado. Ele tem o profundo, o sincero desejo de transformar a Educação. Principalmente em época de eleição. Ele vai prometer mais escolas, menos alunos por sala, aumento para professores. E vai cumprir: investimento pesado na publicidade e propaganda. Uma mentira dita mil vezes se torna verdade, disse alguém. Pois bem, ele vai cumprir tudo. E você vai acreditar piamente.

Rico gosta de escola pública, sim. Principalmente se for Diretor. Vai deixar a sala de aula, vai deixar a sala de direção e ficar em casa. Ele precisa garantir o emprego. Do vice. Se o diretor trabalhar, o que vai sobrar para os outros. O que vai sobrar para o professor? Diretor só precisa assinar ponto no fim do mês e pronto. Pra ele, serviço concluído.

Rico gosta de escola pública, sim. Principalmente se for professor. Tirar licença no serviço público, um, dois, dez meses ganhando na boa o salário enquanto rala no serviço privado. Professor ganha pouco, precisa de um outro emprego. E não se preocupe, ele volta no final do ano. Precisa receber o bônus, quem sabe não está na época de tirar licença-premium.

Quem não gosta de escola pública é trabalhador, o seu filho. Que não tem opção de matricula no colégio particular. Não tem o que fazer quando o filho for pra escola e não ter professor para estudar. Cadeira pra sentar. Quando o filho ficar cinco, seis, sete anos na escola e não aprender a ler e escrever. Ele não vai entender. Não vai entender como que o rico gosta tanto da escola pública, sim, ganha tanta grana em cima mas não matricula o seu filho ali. Ah, isso com certeza ele não vai entender. Nada é tão simples assim, sim?

quinta-feira, agosto 14, 2008

REZA

Chega de beber o defunto
Chega de choro e de vela
Risca a faca que a vingança está acesa
A fala silenciada não aceita mais ficar presa

Momentos de dor eu vivi, mas tá firmão
Foi importante eu cair para ter uma outra visão
Dos sanguessugas macabros se fingindo de mocinhos
Maquinando as maldades pra garantir os seus domínios
Fui ferido em combate mas agora não estou mais
Cicatrizei as feridas pra não garantir esta falsa paz
Quem deve que trema, já dizia um certo amigo
Todo amor a quem nos liberta, “todo ódio a quem nos faz oprimidos”

Chega de beber o defunto
Chega de choro e de vela
Risca a faca que a vingança está acesa
A fala silenciada não aceita mais ficar presa

Odeio vítimas que respeitam seus carrascos
Esta frase eu li no banheiro quando estava cagado
Entendi e aprendi que não basta reclamar
É preciso postura, atitude, pra mudança alcançar
Os ricos estão soltos, com vida luxuosa e bela
Controlando o poder, a política, a polícia e a vida de suas donzelas
Trabalhadores vivem presos, ao mínimo e ao patrão
Greve, lutas por direitos são motivos pra chamar o camburão
Crianças nas escolas não aprendem a ler e escrever
Enquanto diretores e professores fazem sua inscrição pro BBB
Você pode até achar que estou falando demais
Mas se liga, faço relatos apenas de histórias reais
Aquelas que tive contato quando vivi dias de cão
Quando médicos e hienas pisaram nas minhas feridas e riram da minha situação

Por isso
Chega de beber o defunto
Chega de choro e de vela
Risca a faca que a vingança está acesa
A fala silenciada não aceita mais ficar presa

E pra finalizar, se não concorda com os meus argumentos
Faça algo útil com a sua cabeça: vá estimular seus pensamentos

terça-feira, agosto 12, 2008


DEPÓSITO DE GENTE

"A favela é o quarto de despejo da cidade" (Carolina Maria de Jesus)

Depois de uma semana afastado devido as minhas dores, hoje voltei para a escola. Ainda não foi a volta às aulas - para mim -, fui lá apenas para pegar um papel para agendar a perícia médica com o médico do Estado (funcionários públicos precisam passar na perícia quando afastados por mais de dois dias).

Não sei se é o meu estado de espírito ou a permanência de uma situação mas, foi triste voltar para a escola. Primeiro porque eu amo e acredito na importância da educação. Segundo, por ver a situação da minha escola.

Não mudou nada.

Chegando, muitas grades. Pessoas gritando com outras. A escola suja, escura. Na secretaria, pessoas mal educadas, ríspidas, grosseiras, atendendo funcionários e público. Na direção, nem uma alma. Na coordenação também não.

Cena de abandono total.

Também, o que eu queria? Como num passe de mágica, tudo se resolvesse? Todos os problemas sumissem?

Acho que sim.

Me incomoda muito tudo isso. Principalmente devido a todo o processo que eu vivenciei na escola nos últimos quatro meses. Foram dias de confrontação direta com a direção, na qual eu não estava sozinho, mas fui a pessoa que puxou o carro. Tomou a frente, foi para o confronto no front. Primeiro na base do diálogo. Depois exigências diretas. Por fim, denúncia na diretoria de ensino.

Só eu sei o desgaste que foi tudo isso. Documentos escritos durante a madrugada, horas gastas pensando, refletindo, sozinho e com amigos na melhor ação, no melhor argumento. Reuniões, bate-bocas. A espera. E o foda é ter esta sensação de, no final, ter perdido a batalha.

A direção continua. Os problemas na escola continuam. De diferente, apenas a frustração, dores pelo corpo e o sentimento de que quem devia responder pelos atos inconsequentes, saiu fortalecida.

E é foda depois de tudo o que aconteceu, o embate, ter que cruzar no corredor com algumas pessoas. Quando você vai pra um choque como esses, você vai decidido: alguém tem que sair. Ou ela ou eu.

Sei que tudo não terminou, não é o fim, mas estou ferido para a guerra. Na verdade, desacreditado. Perdi a confiança. Não na molecada, mas em mim. Perdi a confiança na minha capacidade de mobilizar, enfrentar, debater. Inclusive na minha capacidade de ensinar. Além de um covarde, sinto-me como um medíocre.

As escolas estaduais de São Paulo parecem depósitos de gente. Para não ser tão ofensivo, por que muitas vezes parecem depósitos de lixo. Não pela sujeira, mas porque as pessoas ali são tratadas como lixo. São largadas como o lixo. Esquecidas como o lixo.

Sei que elas não o são. Mas de vez em quando é necessário que elas mesmas digam isso.

Estou sentindo falta destes gritos.

A favela é o quarto de despejo da cidade, diria Carolina, cinquenta anos atrás. Hoje, as escola são os depósitos. De gente.

segunda-feira, agosto 11, 2008

POEMA - RESISTE

Sacudiram um papel e uma sentença
diante do meu nariz
me jogaram a chave da minha casa
o papel que me condenava
dizia: resiste!

A sentença que me oprimia
dizia: resiste!

A chave da minha casa
dizia: por cada pedra
de tua pequena casa, resiste!

Uma batida na parede
e a mensagem que chegava através dela
de uma mão mutiliada, dizia: resiste!

As gotas de chuva
sobre o teto da sala de tortura
gritavam: resiste!


Muin Bsaisso nasceu em Gaza, em 1930. Formado em literatura árabe e britânica na Universidade do Cairo, lecionou durante algum tempo na Palestina Ocupada. Após várias passagens pela prisão, por motivos políticos, acabou por exilar-se em Beirute, de onde editou a maior parte de sua obra literária. Morreu em 1984, no seu exílio no Cairo.

sábado, agosto 09, 2008

"QUANDO DOIS ELEFANTES BRIGAM, QUEM SOFRE É A GRAMA"






2º dia de conflito na Geórgia (x Rússia)

SILENCIOSO PROTESTO



Thich Quang Duc. Thich Quang Duc. Posso perguntar, ninguém lembrará do seu nome. Há tempos ele não aparece mais nos jornais. Sua estátua não está nos panteões dos heróis. Sua foto não foi a mais reproduzida da história. Sua abnegação material não é algo a ser seguido. Nem a sua trajetória. Ainda assim, a imagem de seu corpo em chamas permanece lá, firme, presa no baú escuro da minha memória junto a outras lembranças que eu jamais terei perdido.


Thich Quang Duc. Sua determinação me causa inveja. Eu queria ser assim como você e superar todos os meus momentos de dor. Todos os meus medos, todos os meus conflitos. E num gesto único, ainda que para muitos fosse trágico, protestar contra este mundo, protestar contra toda a miséria deste mundo, a miséria do homem, e mostrar que nem todos se omitem. Nem todos compactuam com essa música repetitiva, essa dança macabra. Queria mostrar que estou disposto, preparado para a elevação da alma e sacrifício do espírito, Thich Quang Duc.


Você está esquecido. Para muitos, sua morte não valeu nada. Nas escolas, poucos conhecem a sua história, conhecem a Ásia, já ouviram falar de Vietnã ou Budismo. Alguns acham a sua desgraça motivo de graça. Até inspiração. Adoram pegar gasolina e atear fogo em índios e mendigos.


Mas eu não te esqueço, Thich Quang Duc. Queria ter a sua coragem e me instalar na Praça. Aquela, do Povo. Fazer um círculo no chão da onde não podiam passar transeuntes. Dar-me um banho de gasolina. Sentar na posição de lótus e meditar. Entrar em transe. Copular com o mundo. E quando todos menos esperassem, acender o incêndio. Botar fogo ao meu próprio sangue. Fazer fervê-lo. A primeira explosão da chama expandindo-se, BOOM, assustaria a todos. Causaria horror. Afastaria-os. Mas aquilo não é um corpo voando pelo ares. Aquilo é apenas um homem sentado, queimando vivo. Sereno, sem desespero, sem pedir ajuda. Apenas queimando vivo. O completo controle da situação. O horror daria lugar à contemplação. Sem entender, eles se aproximariam. E como você, Thich Quang Duc, eu não daria um pio, não faria um pequeno gesto. Meu silêncio é o meu protesto. Iria apenas respirar fundo e meditar. Até ser consumido.


Do que restasse, que fosse cremado. Seria pedir demais que o meu coração, como o seu, sobrasse intacto, para que aos homens fosse surpreendido? Como você, não quero virar santo. Quero apenas te igualar, Thich Quang Duc. Na superação da dor. Na superação disto que me corrói, me aniquila por dentro, enquanto as pessoas passam ao meu lado indiferentes a tudo. Indiferentes ao que acontece no mundo. Eu quero despertá-las, Thich Quang Duc. Despertar o meu Nirvana. Ser a personificação desta revolta muda, mas não insensível. As chamas estalando serão a minha fala. Chega de falsas palavras. É o fim. Não esperaria mais nada. E como você, Thich Quang Duc, eu estaria pronto. Pronto para ser esquecido.



MARCELINO FREIRE CONVIDA


clique nos convites para ampliá-los
se estiver bem, comparecerei aos dois. senão, desculpe-me Marcelino.

DIAS DE TENDÃO

ontem fui ao médico, de novo.


já estava perdendo a confiança nestes caras, mas procurar quem?


pelo menos o médico que me atendeu não disse que era normal o meu braço esquentar e queimar. "normal é não sentir dor". ufa! obrigado.


passou outros dois remédios que, enfim, fizeram efeito. estou dolorido mas, sem dor.


e já sei o que tenho. depois de um ultrassom, confirmou um dos mil diagnósticos. tendinite. nos dois ombros.

não havia pensado nesta possibilidade mas, totalmente provável, devido ao meu trabalho. já tive tendinite nos braços, quando trabalhei de operador de telemarketing. agora é a vez dos ombros...


agora é esperar o médico na segunda pra ver o que vai dar.


bom, blogs, emeios e outros, já sabem...



abraço

quinta-feira, agosto 07, 2008

DIAS DE CÃO

estes dias está foda pra mim.

há quase três meses que venho sentindo uma dor nos ombros. hora vai, hora volta. nessas, fui suportando, algumas vezes passando no médico, tomando remédios, tirando radiografias, só administrando.

acontece que, desde sábado a noite, esta merda desandou. não durmo, não ando direito. sentado, deitado, em pé, não encontro posição confortável. parece que a pele que me cobre é pequena demais para os ossos do meu corpo. sinto-me comprimido, apertado. juntando a isto, parece que estou carregando uma mochila com uns três, quatro quilos. e eu não a tiro para nada.

não é uma dor insuportável, mas é permanente. contínua. imagine um alicate apertando o seu ombro. não muito forte. agora imagine ficar um, dois, cinco dias com este alicate. ele lá, pendurado, pesando. você começa a sentir outros locais apertar, braços, pulsos, mãos.

ou seja, só dor. não há o alívio.

esta semana já passei em cinco médicos diferentes. já tomei uma porrada de remédios, injeções e nada. já falei pros cara: passa morfina! eles acham que é zoeira.

e os filhosdaputa devem achar que eu to zoando mesmo. porque eu vou no médico, explico o que acontece, eles passam um remédinho lá e me dão o atestado de horas. ou seja, volte ao trabalho. eu falo que quando passo lição, apaga a lousa, o braço esquenta, queima. eles viram: é normal.

normal porque não é o seu ombro, seus viados!

como cansei de passar em médico babaca, resolvi faltar. eu com dor, constante, mal pra cara... e tô tendo que assumir a falta. é uma merda.

por isso não estou escrevendo no blog, respondendo emails. cooperifa, escola, amigos... desculpem. mas a coisa mais importante do mundo no momento é a minha saúde e, estou correndo atrás.

se ficarem sabendo que eu cometi algum atentado contra algum médico, não estranhem. já que estes semideuses são insensíveis a minha dor, não terei sensibilidade nenhuma a eles quando der umas pauladas nos joelhos deles e mandar eles ficarem de pé. quem sabe assim eles se colocam no meu lugar e percebem o que estou sentindo.

sem dormir, sem relaxar e sentindo dor,

rodrigo

domingo, agosto 03, 2008

PENSAMENTOS DESCONEXOS

O sangue pulsando nas veias mais parece um Tsunami. Sua temperatura é alta. Ebulição. Isso se chama raiva.

No Folha de São Paulo, notícias de outro shopping construído sem acesso aos pedestres. Sem praça de alimentação. A idéia é focar o acesso e visitação do público "A". Só o público classe "A".

Mas tiveram que construir um ponto de ônibus para acesso aos trabalhadores. O público "A" não aceita ser explorado. Só explorar.

E junto com os trabalhadores do shopping, não teve jeito: vem o público "D", "E", "F".

Explorados não só pelos donos das lojas do shopping, mas de maneira "exótica" pelo jornal. Afinal, só os ricos são sujeitos. Agem, comem, se vestem. Dormem. Os pobres, os pretos, os trabalhadores fudidos morrem. A favela, a periferia se torna uma imensa vitrine. Não são eles que vivem na bolha, somos nós. Somos nós os "assistidos", tá ligado?

Sei lá. Falo merda pra caralho.

É a raiva.

Lembro de uma outra notícia, tempos atrás. Shopping de Curitiba barra jovens da periferia.

Lá pedestre entrava, quem não entrava eram os "manos vestidos como 'hip-hop'".

Separação, segregação.

Direito à propriedade privada, alega o dono do shopping. O shopping é meu, frequenta quem eu quero.

Este é o Capital. Uma face do sistema, o Deus-Mercado.

Não existem direitos. A não ser que você possa pagar.

O direito é comprado no Brasil.

Não existem leis no Brasil.

Ou você acha que existem prisões para homens como Daniel Dantas? Nahas? Gilmar Mendes?
Habeas-corpus expedido as três da manhã de domingo...

É só música urbana.

Quando eu vejo a indiferença da classe "A" para os pobres, quando os penso nos casos de superfaturamento de obras, corrupção, escolas destruídas, falta de equipamentos nos hospitais, eu penso: esses caras bem que valem uma bala na cabeça. Com a conta paga pela família.

Mas logo eu deixo a idéia de lado. Sabe porque?

A maioria das pessoas quer ser um Daniel Dantas. A maioria quer ter um amigo influente como Gilmar Mendes. A maioria das pessoas querem mais é ter dinheiro, comprar uma puta de luxo, morar num condomínio fechado e tocar o "foda-se o Brasil".

Quem quer ser Zumbi? Quem quer ser Mariguela, Guevara? Brigando pela justiça, enfiado na mata? Sem luxo, mas com dignidade, com amor. Sem dinheiro, mas vivendo sem explorar o outro. Cravando lanças nos olhos do opressor? Quem quer viver assim, brigando, lutando, debatendo, insistindo, sendo chamado de chato, sendo excluído - intencionalmente - de certos espaços, até o resto das vidas? Quem?

Conheço vários guerreiros. Valem muito, demais, mas as vezes somos poucos. E as vezes eu questiono se os nossos sonhos são possíveis. Porque os nossos sonhos não se constróem sozinhos.
Sózim ninguém guenta.

Um pouco da raiva está passando. Paro por aqui. Por enquanto.

Enquanto eles pensam que estou caindo, planos são maquinados na cachola.

Gosto de ficar embaixo, pra medir a altura do tombo.

Até.

sábado, agosto 02, 2008

SENTIMENTO DO MUNDO

Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

(CDA)

PISO NACIONAL PARA PROFESSORES

No dia 16 de julho deste ano, o presidente Lula aprovou o projeto de Lei do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) que institui um piso nacional para os professores de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) para 40 (quarenta) horas semanais, sendo que destas 40 horas, apenas 2/3 deverão ser cumpridos com os alunos em sala. 1/3 deve ser dedicado para preparação e correção de provas, aulas, entre outras atividades. Ou seja, o professor trabalho 28hs em sala e tem 12hs para preparação de atividades.

Apesar do valor ser baixo, o piso nacional - na minha opinião - é um avanço em termos nacional, tendo em visto a discrepância salarial entre os estados da federação. O piso beneficiará cerca de 1.5 milhão de professores, 60% do total.

Outra coisa que acredito ser avanço é que, ao menos é o que parece, agora serei remunerado pelas horas que trabalho de graça. Sim, pois sou pago por cumprir uma jornada de 27 horas/aula na escola, mas além da escola, eu trabalho +/- 15 horas semanais, preparando aulas, atividades, fazendo correções, estudando em casa. E por isso não sou remunerado. Espero que esta discrepância seja agora resolvida.

O governo do Estado de SP já chora dizendo que terá de gastar 1,4 bilhões a mais para cumprir esta determinação, tendo que tirar o dinheiro de reformas de escolas(!) entre outros. Dinheiro - BEM APLICADO, diga-se de passagem - em educação não é gasto, é INVESTIMENTO.

Outra coisa, segundo o senador Cristovam Buarque (PDT-DF, autor da lei) o orçamento do Estado é de R$ 100 bilhões/ano. A determinação constitucional prevê investimentos em Educação de 25% do orçamento. Será que o estado está cumprindo a lei?

Aliás, será que o estado fiscaliza o investimento do dinheiro que faz? Eu tenho uma resposta: NÃO!

Desafio a qualquer um da secretaria de educação a ir na minha escola e provar que no ano passado foi realizado uma reforma de R$ 537.000,00 (Quinhentos e trinta e sete mil reais).

Enfim, vamos caminhando.

Rodrigo