segunda-feira, janeiro 12, 2009

ALGUMAS NOTÍCIAS

observando a movimentação deste blog, as pessoas conseguem ter uma breve noção do que estou fazendo por estes dias: nada. absolutamente nada. ou melhor, nada é algo muito generalista, não diz muita coisa, não diz a real. quando digo "não estou fazendo nada", traduza-se, não estou fazendo nada ligado ao trabalho, ao meu emprego. ou talvez esteja. fato é que por estes dias estou descansando, lendo, assistindo filmes, tocando um violão. estas coisas que só me fazem bem.

passo por aqui quase todos os dias. leio as notícias, atualizo-me nos blogs e, vou-me embora para algum lugar que não é pasargada - se soubesse onde fica, lá estaria junto ao Bandeira. não estou postando nada por falta de assunto, por falta de escrita. estou num processo de reclusão voluntária, na qual estou desvelando algumas coisas íntimas, profundas do meu ser. estas viagens são um tanto quanto difíceis, um tanto quanto chatas, mas fecundas pois sempre voltamos modificados delas. se bem que as transformações nem sempre são para melhor.

há tempos não produzo nada, literariamente falando. e sinto falta. sinto falta de ter algo a dizer, sinto falta de ter algo a escrever, algo importante para falar, algo que transforme a vida, nem que seja apenas a minha. é que a minha escrita sempre foi muito baseada mais no meu emocional do que no imaginário, mais na raiva do que na criação. claro que a criação é fundamental mas, o pontapé inicial sempre foi a raiva, a dor aguda no estômago, a falta de ar. a partir daí, tudo surgia, tudo se transformava. mas nestes dias de marasmo interior - "socorro, não estou sentindo nada..." como produzir, como criar, como escrever?

estou lendo bastante. algumas coisinhas aqui de João Antônio, outras acolá de Plínio Marcos. textos muito importantes de Affonso Romano de Sant'Anna (não conhece? putz, tá perdendo muita coisa boa cara). tudo isso para me ajudar a escrever mas também para aliviar-me. se desejo ser um bom escritor, antes de tudo preciso ser um excelente leitor. para mim isso é básico.

ah, sobre a suposta "crise" de produção, ela ficou mais sossegada depois de descobrir que João Antônio ficou doze anos (12 anos!) sem publicar nada depois do lançamento do seu primeiro livro, Malagueta, Perus e Bacanaço. não quero ficar tanto tempo sem publicar uma obra mas saber que um escritor do quilate de João pode ficar tanto tempo assim, sem publicar nada, e quando o faz, faz coisas maravilhosas (como o é o Leão-de-Chácara, seu segundo livro) dá um alívio danado.

pois bem, pra fechar, vou publicar algumas coisinhas que julgo muito importante - para mim e para quem quer ser poeta, ou escritor, ou os dois, se for capaz - e cabem ser publicadas neste humilde blog. todas são super-importantes e, antes de se excluirem, se complementam:

"entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos." (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

"se um atleta trabalha seus músculos diariamente, se um laboratorista fica atento diante do microscópio, se um piloto tem que acompanhar e manipular instrumentos de navegação, por que a poesia não exigiria contínuo trabalho e observação?" (AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA)

"Até diria que uma coisa é estar artista e outra é ser artista. Pode uma pessoa numa determinada circunstância ou período de sua vida, eventualmente, estar em condições tais que suas emoções se precipitem em determinadas formas de expressão. É como se tivesse se conectado com forças e energias que a ultrapassam e a resgatam. Mas uma coisa é a capacidade de fazer algo razoavelmente bem feito num determinado instante. Outra é comprometer-se com um projeto onde vida-e-obra se confundem. É como se tivéssemos achado umas pepitas de ouro na superfície de um terreno. Mas a riqueza está no fundo e exige paciência, técnica e aprofundamento. E é aqui que muitos embatucam, porque achavam que bastava balançar a árvore dourada e os frutos cairiam aos seus pés de Midas. Ao contrário, daqui para frente é que o desafio vai começar. Agora é que há que atravessar o deserto por quarenta anos e cultivá-lo “como um pomar às avessas”. É como se alguém tivesse as ferramentas, alguns tijolos e pedras: resta uma construção por fazer. Cadê o projeto? E a construção é aquilo que se constrói enquanto se constrói. Sendo a obra de arte, segundo Joyce, uma obra-em-progresso, como diria o nosso Rosa, é travessia. Por isto, as pessoas que têm alguns dos atributos necessários para se tornarem artistas, num determinado instante encontram-se naquela situação que a antropologia chama de situações limites. Há um ritual a cumprir para se passar de um estágio a outro. Ultrapassar essa linha divisória entre o amadorismo e o profissionalismo, entre o episódico e o sistemático, entre o aleatório e um projeto estético-existencial, eis o desafio. E nisto, de novo, há uma pesada solidão. Solidão dificil de ser compartilhada. Tenho dito a algumas dessas pessoas que surpreendi na soleira desse rito de iniciação: agora depende de você. De você e de uma série de fatores aleatórios. Pois assim como o criador tem que cavar no escuro de si mesmo a sua pretensa riqueza, entrar no sistema literário e artístico é entrar numa selva escura. Talentos podem se perder, ou terem seu percurso mutilado, enquanto outros são espantosamente superestimados." (AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA)

"fui percebendo que só se pode fazer arte se for com pele, vísceras, arrebatando o interior. percebi também que eu tinha um tema - a malandragem (...) o homem precisa ter alguma grandeza, tem de ter um momento de Homem pelo menos. meu único medo é passar pelas coisas e não vê-las." (JOÃO ANTÔNIO)

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