segunda-feira, março 23, 2009

AQUI, ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ

Hoje eu dei uma desanimada grande na escola. De verdade.

Não sei o motivo. Cansei, sei lá. Não sei se foi o fato da correria destes dias. Por exemplo, sexta não tinha aula mas fui na escola durante a parte da manhã organizar os livros da biblioteca, que estavam jogados na sala de informática. No sábado, eu, o diretor (novo) e algumas pessoas da comunidade - alunos e um camarada - estivemos na escola das 08hs até as 16hs, para acabar a organização dos livros da biblioteca, para instalar ventiladores nas salas. Trampo pesado. Pra aliviar o calor, pra desocupar o espaço de ventiladores parados e não usados. Tudo isso foi muito cansativo, só eu sei. Quase não deu pra preparar as minhas aulas, quase não deu para curtir o final de semana, quase não deu para fazer as minhas coisas. Só eu sei, das esquinas por que passei, só eu sei...

Também não sei se foi o fato de hoje os meus alunos da manhã (oitavas séries) estarem muito dispersos. Só querendo falar de sexo, timão e BBB. Apesar de ter levado um filme (Um Grito de Liberdade), para discutir a questão do Apartheid na África do Sul, a questão do Neocolonialismo, Imperialismo, Capitalismo e outros ismos. Não sei se é o fato de estar com serviço acumulado, de toda hora ser procurado pra tudo na escola - enquanto outros profissionais ficam meio que de braço cruzado. Não sei se é o fato de não ter, há duas semanas, dez reais sobrando na conta pra gastar com qualquer bugiganga, o fato de ser constantemente cobrado, responsabilizado, penalizado: pelo Estado, pelos jornais, por encarregados. Não sei se é uma destas coisas específicas, o fato da minha vida estar de cabeça pra baixo, o fato é que eu fiquei cansado, bem cansado, eu estou cansado e, pensando de verdade se vale a pena, se a minha alma não é pequena, se eu não tenho que pensar um pouco mais em mim.

Não sei. De qualquer modo, vou prosseguindo.

No meio deste fogo cruzado, estou organizando um grupo de teatro na escola. Os alunos já foram escolhidos. Estão pilhados. Vou começar os ensaios no dia 09 de abril. Toda quinta, das 16hs às 18hs. Não sei se terei espaço na escola. Mais um trabalho volun(o)tário (?). Mais uma corda pra me enforcar mais um pouco. Mais uma coisa pra investir parte do meu parco salário. Mas são escolhas. Que eu fiz. Ninguém me obrigou, ninguém me forçou. Eu quiz. E continuo querendo. Por ideologia, por militância. Meus heróis morreram de overdose. Meu inimigos estão no poder. Então, eu sigo assim.

Até quando? Não sei. Por enquanto, mudaram as estações, nada mudou e eu vou prosseguindo.

Até porque, se parar, eu caio da bicicleta. E levantar é bem mais difícil.

Direto do front,

R.C.

P.S: tive apenas duas aulas a tarde. E a molecadinha das quintas, sempre tão energizadas, agitadas, aceleradas, hoje estavam calmas. Justo hoje que eu estava um bagaço. Não sei se sentiram no meu olhar, na minha respiração. Não sei. Só sei que este comportamento inesperado me acolheu como um afago. Um forte abraço. E eu pude respirar um pouquinho mais fundo. E descansei. Não o suficiente pra continuar, mas o necessário para não desistir. Ainda.

4 comentários:

Interaubis disse...

teje linkado!
muito bom o blog, vou dar uma olhada no livro ; )
Abs

r.c. disse...

Beleza. Volte sempre.
Abraço

dulixo disse...

Salve Rodrigo...forca na caminhada meu bom..."se tu lutas tu conquistas"...tamo junto...abraço.

Mjiba disse...

É fio, ta pensando que é doce..as vezes penso se sofremos mais sabendo das coisas..as vezes queria ser alienada, não está nem ai pra nada...num sei se seria melhor...carrega o mundo nas costas; sem saber o que fazer com ele...sem saber como solucionar, se precisa de solução, se é apenas imaginação...sei lá;
é osso.....