terça-feira, setembro 29, 2009

ENTÃO VAMOS PRA VIDA!

Viver dói.

As pessoas me olham e não sabem, mas trago comigo por estes dias uma grave ferida. Aberta. Exposta. De morte. Da alma. Que não cicatriza. E ela sangra. Quase todos os dias. E é o tipo de ferida que só se faz assepsia. Não se pode fechá-la, não. Ela precisa cicatrizar de dentro pra fora. Se pode dar tempo. Deixá-la aberta, não mexer. Mas quase todo dia vem alguém e cutuca. “O que é isso?”. Vão lá e tiram uma incipiente casquinha. Viver dói.

Das lágrimas que secaram já fiz um balde de sal. Já fui na missa. Já fui na psicanalista. Freud e Cristo andam hoje comigo. E ainda tomo remédios. Mas nada cicatriza a ferida. Porque viver dói. E nestes tempos, sempre há outros iguais com expostas feridas. E elas sangram. Elas latejam. Elas doem. E eles gritam. Porque é isso que se faz quando sentimos dor: gritamos. Muitas pessoas vêm, tem gritado no meu ouvido. Que me odeiam, que eu me fodo. Que elas me matam. E matam mesmo. Ontem mataram Evaldo. De costas. Dois tiros na nuca. Só por maldade. Já tinham pego carro, carteira, celular. Já estavam indo embora. Evaldo de costas. Dois estampidos na nuca. Ele ouviu, mas não gritou. Caiu de frente. Doeu, mas não gritou. Meu pai gritou. Com a coronhada na cabeça. No bolso sem a carteira. E a piveta falando pro cara com a automática: “Atira. Esse merda não tem dinheiro, não vale nada. Atira.” Ele não atirou. Meu pai gritou. Por estar vivo. Eu não grito. Sofro mudo. Tenho medo de começar a gritar e deixar os outros surdos.

Viver dói. E nestes dias não há ombros pra chorar. Não há. Nenhum. Quem me amava hoje me odeia. Me julga com outra. Com outras. Sem saber que a minha dama de companhia se chama Solidão. Ela é amiga da Morte. Me apresentou. A Morte piscou. A Morte me convida pra dançar. Eu digo não. Hoje não. Mas ela sabe que viver dói. Que a vida me sangra pelos poros. Que a vida me agride nos olhos. Ela sabe que a vida quer que eu me mate: de desespero, de desesperança. De desgosto. Aliás, a vida tem me derrubado quase todos os dias. E não vejo juiz algum presente para dar falta. Pênalti. Cartão vermelho. Não. O campo está descampado. Não vejo ninguém. Me sinto sozinho. Viver dói. A vida quer que eu me mate. Mas eu digo não. Sempre fui teimoso. Sempre fiz o contrário do que queriam todos. Eu digo não. Eu digo: vou me vingar da vida. Vida, escuta: eu continuarei vivendo. Apesar de que me lembro que viver dói. Mas tudo bem. Aprendamos a viver com a dor. Não tem outro jeito mesmo.

3 comentários:

Jéssica Balbino disse...

Me lembrou uma frase de Cazuza, que dizia: morrer não dói. Deve ser o oposto da dor que é viver todos os dias...
meio assim também hoje, neste dia cinzento !
Quando puder, passa lá no meu blog tbm ...consegui disponibilizar meu primeiro livro para download: http://jessicabalbino.blogspot.com
bjão e muita paz !

Robson Canto disse...

Viver pacificamente com a dor? Nem a pau ela que procure outro lugar pra viver por daqui pra frente comigo é só bruxaria!!!!!!

Camila Lua Oliveira disse...

Nossa, eu tô sem palavras.
Sério. Eu já o considero bastante, Rodrigo, sério. E lendo suas coisinhas e coisonas me sinto perto. Não é qualquer um que se sente assim ao ler alguém. Aproxima-se quando nas vidas (escritas) há semelahnaças.
Você me parece ser TÃO FORTE, MAS TÃO FORTE que não sei se acredito que esse texto é seu ou de outra pessoa. Mew, fiquei pesada com esse texto. Tenso isso, mew.

Mas ó, to te mandando um nova cartinha, ein!